Friday, November 9, 2012

Triste, triste, triste

Ok, houve realmente uma coisa que não mencionei no meu último post, outra das razões pela qual sou capaz de estar mais magro... E começo assim o texto como se não tivesse havido interrupção nenhuma em relação ao anterior, como se acreditasse que todos tivessem estado duas ou três semanas em suspenso sem tirar os olhos do ecrã. A isto, meus amigos, chama-se confiança. Ou então é a estupidez do costume. Há-de ser uma das duas.

Ora bem, além de efectivamente não andar a comer "merda" (termo que usei para definir aquilo que não faz bem nenhum ao organismo e só serve para sossegar a gula) posso também adiantar que deixei de beber álcool.

Isto lido assim parece que não tem impacto nenhum... Mas podem crer que me foi particularmente difícil escrever estas palavras. Até porque escrever num teclado enquanto se chora copiosamente, equilibrando meia dúzia de kleenexes nas mãos é coisa para profissionais.

Deixei de beber álcool e isso é motivo de tristeza profunda para mim.
Mais triste do que um órfão a tremer de frio.
Mais triste do que um esquimó à paulada a uma foca bébé.
Mais triste do que o sonho do Jorge Gabriel em treinar o Sporting.
Mais triste do que Felix Baumgartner a atirar-se do espaço sem que ninguém o fosse tentar agarrar.

Triste, triste, triste.

E a razão que me levou a abandonar a pinga, para tornar tudo ainda mais revoltante, nem foi o raio da pança. Nem foi o peso. Foi porque o meu corpo insiste, desde os quatro anos, a sofrer de uma patologia típica "das gajas". Tenho enxaquecas crónicas desde tenra idade e percebi que bastam dois ou dezoito copos de vinho tinto para fazer disparar uma dor de cabeça mais depressa do que uma mulher da casa do Paco Bandeira.

Mas a verdade é que eu nem sequer bebia muito.
Nunca fui daqueles tipos que chegam a casa e vão preparar "um drink", vertendo generosas quantidades de whisky em copos largos (coisa muito vista em telenovelas, séries e filmes). Nunca percebi como é que aqueles indivíduos conseguiam depois ir jantar e estar com a família em condições... Se fosse eu a fazer isso, provavelmente não demoraria quinze minutos a ficar vermelhusco e a olhar fixamente para a minha mulher, encostado à ombreira da porta. Tenho a certeza de que em pouco tempo, ela passaria a dormir com um cutelo debaixo da almofada.

Também é comum vermos na TV aqueles homens de negócios que antes de assinar um contrato, enquanto discutem os detalhes, atiram baldes de "scotch" para a goela e largam baforadas de charuto no ar. Para vossa informação, eu já experimentei fazer isto e não acabou nada bem. Acreditem que para que os documentos não acabem a boiar em vomitado e estes homens não passem o resto da tarde de bruços no tapete do escritório de um deles, é preciso um poder de encaixe daqueles valentes.

A minha relação com o álcool nunca foi esta. Nem nada que se parecesse!
Beber para mim, com o passar dos anos, tornou-se algo social para ser partilhado com amigos, entre histórias divertidas e gargalhadas soltas. Se há coisa que a História nos ensinou é que um bom vinho desperta os sentidos e alimenta o espírito, e eu sempre gostei muito de História.

Assim como de vinho.

Tempos houve em que até tentei fazer um workshop para perceber um bocado mais. Mas os tipos não me abriram a porta e acabei por ficar na mesma (a título de curiosidade, o relato ficou aqui imortalizado).

Mas pronto, afinal esta abstinência até resulta: nunca mais tive enxaquecas a sério.
Isto é mais uma maneira grosseira e pouco criativa que o universo teve para me mostrar que não sou bem-vindo neste mundo cruel! Nada do que eu gosto pode ser feito. NADA!

Neste momento, eu que era a alma de qualquer festa ou jantar, tenho o espírito e o sentido de humor de um tijolo acabado de cozer. Isto e o parecer que o meu guarda-fatos é a secção de toldos do Leroy Merlin, torna a minha vida muito mais complicada de momento.
A total e completa ausência de álcool no meu organismo, aliada ao desaparecimento da sofreguidão, e porque não dizer ferocidade, no "ataque" à comida, fizeram com que já não constitua entretenimento para ninguém. Sou uma sombra daquilo que já fui... O álcool, é preciso dizê-lo, era o meu doping.

A minha sorte é que isto não é como no ciclismo e, ao jeito do Lance Armstrong, ninguém vai manchar o meu currículo ou tornar-me persona non grata do mundo dos petiscos e dos chiribitis. O que passou passou e quem viveu ficou com boas memórias.

Agora é começar do zero e reinventar-me, criar toda uma nova forma de estar, sem o inebriante efeito dos chamados "copos".

...

Tivesse eu lidado com isto mais cedo e o sacana do Baumgartner não tinha saltado sozinho.

10 comments:

Unknown said...

O Don Draper leu isto a bocadito e pediu para te dizer, de uma maneira bem cordeal, que:

"Es um mariquinhas páaa!"...


Mas não ligues que ele tava com os copos...outra vez...


André Oliveira said...

Sou uma pessoa doente, Pedro.

Sou uma pessoa doente.

Homemdagaragem said...

tudo isto para dizer que realmente nunca foste alcoolico

André Oliveira said...

E quem disser o contrário, ver-me-á em tribunal!

proque said...

Mano. O problema da dor de Cabeca são os sulfutos do vinho bebe vinho sem sulfutos, em quantidades normais claro! E isso passa. Experimenta carm so2 free. Caro mas bom. Deve estar no corte inglês. Depois diz me como corre. Abraço Hendrix

Sexinho said...

Isso só me acontece com os brancos; mas como a minha resistência ao alcoól é zero, ao primeiro copo de tinto, cerveja ou o que seja, deixam-me a dormir...
Hoje mesmo me aconteceu!

André Oliveira said...

Rock! Obrigado pela dica. Para já deixa-me estar assim mas mais tarde ou mais cedo vou ter de ver isso... Grande abraço.

Vânia Duarte said...

Tu tens fantasias com focas bebes a morrerem à paulada não tens? que raio sempre a falar do mesmo.
Mas sim já não tens metade da piada que tinhas, já não és gordo e só Deus sabe o quanto eu adorava comprimentar-te com um simpático: Olá gordo.
Já não tens um esquilo morto na cabeça, ou dois, e agora deixaste de beber. Enfim André já não tens piada.:-)

TheArtistFormerlyKnownAs said...

Eu conheci-te, já há quase uma década, a emborcar jolas no Rigoletto como se o teu metabolismo funcionasse a cevada. Parte de ti desaparece com o teor alcóolico. Resquiat in pacem!

André Oliveira said...

Uma parte de mim desapareceu sim e de facto já não tenho piada. Resta-me fantasiar com focas bébés e esperar o toque gélido e implacável da morte! Oh joy...