Friday, March 9, 2012

Melhor assim

Há uns meses atrás, confessei neste mesmo blog, nomeadamente aqui, que tinha começado a ir ao ginásio. Não que este invólucro estupendo a que chamo de corpo não seja já de si perfeito mas enfim, cheguei à conclusão que uma boa maneira de gastar o tempo livre era correr em cima de um tapete rolante que não sai do sítio e acartar com pesos que não precisam de ir a lado nenhum. É portanto deste nível de estupidez que estamos a falar.

Ok, estava um bocado gordo e resolvi tomar uma atitude. Neste momento continuo gordo mas ao menos estou mais rijo. A olho nu pode não fazer grande diferença mas a mim dá-me grande satisfação saber que agora já posso ir para a frente das manifestações chamar nomes feios às mães dos polícias sem que as balas de borracha me aleijem. Não é coisa que alguma vez tenha feito ou que tencione fazer mas ainda assim... agora é uma hipótese.

A brincar a brincar já lá estou há mais de meio ano, a ir duas vezes por semana, e já consegui que o monitor me tratasse por tu (para perceber esta, lamento mas é mesmo preciso ler o texto anterior). Não sei se ele foi à minha ficha e percebeu que não nasci nos anos sessenta como originalmente pensava ou se os meus esforços por usar o vocabulário da malta nova deram resultado. Se assim foi, os meus agradecimentos aos génios criativos que inventaram palavras como "Mámen", "baril", "tótil" e "fónix". Bem hajam.

Ora, como em todos os sítios, há coisas que gosto e outras que não gosto no ginásio que frequento. Gosto do sentimento com que fico depois de sair de lá. Não aquele com que vou para lá, não tudo o que sinto durante o tempo de tort... de exercício mas depois, quando já estou com a malinha às costas e a abandonar o edifício. Saio sempre com uma noção de dever cumprido, como se tivesse desmantelado uma bomba num orfanato cheio de focas bebés do Ártico. Também orfãs, claro está. E a magia da coisa é que não preciso de fazer nada tão complicado para ficar com aquele sentimento de "campeão". Basta-me passar hora e meia a arfar como um boi cavalo e a questionar-me se o formigueiro no braço esquerdo é a morte que se aproxima ou apenas comichão. Portanto, isto é claramente um aspecto positivo.

Claro que há a saúde e todas essas paneleirices... Mas como eu acredito que daqui a vinte anos vamos ser todos metade robôs, tendo substituido as partes podres do nosso corpo por maravilhas da tecnologia capazes de as imitar e até superar, não é com certeza por isso que me presto a todo aquele sofrimento. E digo sofrimento porque aquilo que eu passo não se limita apenas às sevícias auto-infligidas... Não há minuto de treino que não esteja a odiar alguém. Sim, ODIAR.

Sei bem a força que a palavra tem e também sei que não há grande razão para ser aplicada a desconhecidos, a menos que tenham feito mal à nossa família ou sejam adeptos do FCP. Mas a verdade, e não me orgulho disso, é que realmente aquela malta me dá a volta aos nervos... E principalmente um indivíduo em particular...

Antes de mais, que fique bem claro que não tenho absolutamente nada contra a homossexualidade. Aliás, acho que já aqui o referi várias vezes. Só há duas coisas que me enervam na onda gay: quando há palhaçada e quando o sujeito ou sujeita em questão não são necessariamente gays mas fazem toda uma panóplia de coisas dessa mesma natureza sem se aperceberem. Assim, segundo este contexto, aqui vai uma pequena lista de coisas que me enervam no tipo que vos falo:


- o corte de cabelo à bailarino (aquele que é mais curto dos lados e deixa uma franja frisada a bambolear à frente dos olhos, como se se transportasse um esquilo morto emplastrado na testa).

- a musculatura desnecessária (já não ambicionamos tomar terras aos mouros, é preciso que se saiba...)

- a camisola de alças de spandex.

- o facto de estar sempre acompanhado por dois outros indivíduos consideravelmente mais enfezados, para quem com certeza é qualquer coisa de Deus Apolo.

- o facto de monopolizar durante horas duas das máquinas que estão no meu plano de treino.

- a estupidez característica da adolescência.

- os seios.


...


Sim, os seios.

Não se enquadra com o resto da descrição, pois não? Mas é verdade, meus amigos.

O rapaz faz concorrência à Samantha Fox nos seus anos dourados.
E isso provoca-me muita espécie.

Calculo que haja uma fase durante o crescimento, principalmente naquele que envolve treino de musculação diário como o imberbe faz, em que se chega a um ponto em que se tem de optar entre continuar a desenvolver os músculos do peito ou procurar emprego como ama de leite. Se fosse eu escolheria a primeira opção, mas ele claramente optou pela segunda.

Seios!

Atenção que estou a falar de copa D para cima. E cada mês que passa a coisa piora um pouco.
Neste momento, e só à conta dos pesos, o rapaz pode orgulhar-se de ter mais mamas do que a Cameron Diaz, a Keira Knightley e a Kylie Minogue todas juntas. Agora pensando bem, talvez isso não seja bem motivo de orgulho mas ainda assim não deixa de ser verdade.

Seios!

Escusado será dizer que com a costumeira camisola de alças de spandex, e tendo a sensatez e a vergonha na cara de ainda não usar sutiã, aquilo salta e pulula à vista de todos num espectáculo de luz e cor a que nenhum ser humano com um pingo de bondade no coração devia ter de assistir.

Mas o rapaz gosta do look. E, ao que parece, aqueles que o acompanham também gostam.
Mal ele chega ao local de treino assenta logo arraiais nas duas máquinas que me interessam, com os companheiros aos pulinhos atrás de si. Como tem a compleição física de um gorila prateado trata logo de apetrechar os halteres com qualquer coisa como uma meia dúzia de toneladas de cada lado, perante a excitação dos tais companheiros. Depois, a rotina é sempre a mesma: levanta duas vezes, admira-se ao espelho durante dez minutos, levanta mais duas vezes, mete os seios para dentro da camisola de spandex e admira-se ao espelho durante mais dez minutos, e assim se passa uma tarde bem passada.

O problema é que eu preciso de usar aquela porra daquelas máquinas! E ainda por cima só demoro um quarto de hora!

Mas com o senhor Nereida Gallardo a passear-se à frente do espelho, sempre seguido de perto pelas suas duas concubinas, torna-se muito difícil!

Claro que podia aproveitar um desses momentos narcísicos de auto-contemplação para fazer o meu exercício num instante. Mas como ele deixa mais ou menos um Fernando Mendes em peso de cada lado do haltere, teria de retirar aquilo tudo disco a disco para poder levantar os meus quarenta quilinhos da praxe. Raisparta o miúdo, pá!

Outra coisa que me irrita nele é a atitude durante o banho. Não que costume tomá-lo com ele, Deus me livre e guarde, mas a verdade é que ele também não o toma sozinho. Toma-o na companhia de um dos seus lacaios e deve ser à vez porque não é sempre o mesmo. Eu nem acredito que façam porcarias na cabine do duche, até quero crer do fundo do coração que é para poupar tempo porque naquela estrumeira de ginásio que partilhamos só há mesmo dois chuveiros. Mas ainda assim é muito esquisito. Mesmo muito... E principalmente porque passam o tempo todo a cantar, a gritar e a imitar sons de bichos selvagens. A alguns pode ser apenas a estupidez característica da idade mas eu temo que seja algo substancialmente pior.

Reparei também que tanto ele como os outros tomam banhinho de calções. Abençoados. Deve ser a maneira de se convencerem que não há nada gay em partilharem um espaço de um metro e meio quadrado enquanto ensaboam braços, pernas e seios. Meio metro quadrado esse que, partilhado com um boizanas como o nosso amigo fica bastante mais apertado... Mas não há nada de rabiças nesse momento, não senhor... Como poderia haver se estão a usar calções?

Bom, esta conversa está a deixar-me mal disposto.

Eu só queria chegar, cumprir o meu plano de treino e voltar rapidamente para casa.
Para a minha vida cristã, junto da minha mulher, dos meus gatos e dos meus valores morais inflexíveis.

Dispensava de bom grado todo aquele freakshow. Ainda por cima proporcionado por um sujeito que se quisesse me esmagava o crânio com dois dedos do pé.

Todavia, ele tem seios de mulher e eu, até ver, ainda não.
Por isso, parece-me que estou melhor assim.