Sunday, October 16, 2011

Tudo o que é bom um dia acaba

Tudo o que é bom um dia acaba.

O velho cliché que pode valer para os nossos subsídios de férias e de Natal aplica-se agora às minhas próprias férias. Acabaram e amanhã volto ao trabalho. E não escondo que a ideia de tornar a contribuir para uma economia e para um estado que me rouba como se eu fosse novamente o puto gordo no recreio da escola, não me parece nada apelativa. É que às tantas nem se trata tanto de criminalidade mas mais de bullying, tanto que estou farto de levar na tromba com toda uma panóplia de medidas, percentagens e impostos dos quais muitas vezes nem sequer percebo as siglas. Mas enfim, depois de duas semanas em intenso período de relax acho que não vale a pena estar já a emporcalhar a mente com este tipo de pensamentos e a desafiar o braço esquerdo que começa a formigar...

Não muito depois do nosso super-mentiroso Primeiro Ministro (pronto, lá vou eu outra vez...) anunciar as novas medidas de austeridade, já estava eu a fazer as malas para me fazer à estrada. Na realidade, tudo não passou de uma coincidência mas não escondo que acabou por ser uma p**a de uma coincidência. Enquanto o desgraçado dizia solenemente na TV "Eu peço desculpa mas na realidade nós já não somos tão soberanos quanto eu pensava e agora quem manda é aquela malta que nos quer comprar as empresas, que vamos privatizar à papo-seco, assim a preço de saldo e por isso em vez de tentarmos impulsionar a economia com medidas de incentivo vamos afundá-la ainda mais para enriquecer os nossos donos que detonam isto tudo se não nos portarmos bem..." (talvez não o tenha dito precisamente com estas palavras mas o conteúdo, não me venham com tretas, era este)... Enquanto ele dizia isso eu ouvia "Saguim, minha besta, arruma já os trapos e volta p'ra casa que isto vai ficar pior e ainda te vais arrepender amargamente dos dias que andaste a comer e a beber que nem um porco a sovar! Vá, desanda mazé!" E eu, porque gosto pouco de ouvir falar mal, desandei.

Mas, voltando um pouco atrás... Depois da viagem à Madeira fui passar uns dias a Ferrel, perto do Baleal, uma terra que ficou conhecida porque há uns anos quiseram lá fazer uma central nuclear. Nessa altura, o povo juntou-se para dizer que se fossem p'rá frente com aquilo podiam ter a certeza que iria haver sarrabulho dos antigos. E como o pessoal que usa gravata gosta pouco de sarrabulhos, até porque lhes deixa umas nódoas nas camisas que não saem nem por nada, e preza convenientemente a permanência dos testículos no sítio de origem, desistiu da central nuclear para gáudio dos ferrelenses. Afinal de contas, estavam a lidar com malta que se junta todos os anos para organizar uma corrida de burros à volta da igreja. Portanto, gente que não é p'ra brincadeiras.

Dias bem passados que foram esses, sim senhor...
Mas o grand finale estava para vir em grande estilo: dois dias num Hotel das Caldas de Monchique, daqueles com Spa e tudo. Toma, embrulha e não digas que vens daqui!

Antes demais, convém referir, que este menino que vos escreve NUNCA tinha entrado numa sauna. NUNCA tinha tomado um banho turco. NUNCA tinha levado uma massagem.
E não posso dizer que houvesse uma grande razão para ser assim... Penso que era apenas mais um caso flagrante de falta de categoria. É que eu definitivamente não tenho categoria para essas coisas. Eu é mais bejeca na mão, tremoços no bucho e os argentinos do Benfica a ganhar na TV. Mainada!

Posto isto: óleos relaxantes, piscinas de hidromassagem e ropõezinhos brancos são coisas de rabixo. Mas como também considero que qualquer homem tem direito aos seus momentos mais rabixos, e tendo eu uma mulher ao lado para anular quaisquer conotações menos viris, lá acedi a experimentar.

No entanto, um problema. Ao chegarmos ao Hotel, constatei algo que poderia já ter sido entendido mais cedo caso eu tivesse feito um exercício mental simples.

Termas = Pensionistas

Viram? Eu disse que era simples.

Portanto, só velhos.

Eu não tenho nada contra eles. Até porque, se tiver sorte, mais tarde ou mais cedo farei parte do clube e depois tudo o que não preciso é de uma horda de indivíduos a cravarem-me as dentaduras nos lóbulos das orelhas, como vingança por tudo aquilo que lhes desdisse. Mas enfim, eu ainda estou numa outra fase da vida e custa-me ver um snack-bar a fechar às 17h. É certo e sabido que os pensionistas às 19h já estão a "cabecear" em frente à TV, abençoados sejam, mas eu ainda não. Só a partir das 22h é que penso em aquecer a água para me ir deitar...

Na primeira noite o desafio foi encontrar um sítio para comer. O restaurante do Hotel era um pouco caro demais e, pelas regras instituídas, devia fechar a meio da tarde... Por isso, vimo-nos forçados a encontrar soluções. Estúpido como já me habituei a ser, entrei por uma pensão adentro, a única num raio de 50 km, atraído pelos preços convidativos da carta que se encontrava exposta na rua. Mas quando me deparei com o ambiente tétrico do interior do edifício, ambiente esse que faria o próprio Drácula verter uma gotinha de pânico, e constatando que nenhum ente vivo se encontrava na recepção nem ao seu redor, dei meia volta e regressei para junto da minha mulher que, sempre mais ajuizada do que eu, estava certa que aquela não era uma boa ideia.

Até que surgiu uma pessoa. Do sexo feminino. E me convidou a entrar...

Entre risos e gorgolejos de nervos, lá acedi ao chamamento da "senhora", chamemos-lhe assim, e entrei na sala de refeições, seguido por uma mulher contrariada e lixada da vida por eu ter vergonha de me livrar airosamente de situações como aquela. A sala de jantar era tudo aquilo que se poderia esperar de um sítio como aquele. Mobília escura e antiga, uma enorme e horrenda natureza morta na parede, luz eléctrica a imitar a de velas e apenas duas criaturas, também elas idosas, a acabar a refeição num dos cantos da sala... Ah e música de orgão daquelas dos vampiros a soar não percebi muito bem vinda de onde! Isto, tal qual.

Bom, tentando contrariar a palidez dos nossos rostos, comemos, bebemos, ignorámos um gato assustador que passou o jantar inteiro ao nosso lado a olhar p'ra nós, orámos a Satanás, sacrificámos uma virgem e voltámos para o nosso quarto. Bom, a parte da virgem e do diabo é mentira mas a do gato juro que é verdade. No entanto, estando de férias, tudo é p'ra aceitar com particular ligeireza. Não é um jantar "especial" que marca as nossas férias.

O que marca as nossas férias é mesmo o raio do Spa!

Bom, eu já expliquei que não tenho categoria, que não é a minha praia e essas coisas todas... Portanto já fiz um build-up para aquilo que aí vem. Ao segundo dia nas Caldas de Monchique, eu e a minha mulher marcámos uma massagem para dois, massagem essa que nos dava direito a usufruir do complexo termal. Portanto, de manhãzinha fomos logo p'ra lá. Na piscina estavam duas velhas e um gay, coisa que não me fez sentir particularmente à vontade. Nem a mim nem a eles, diga-se, porque os minutos que se seguiram pautaram por uma série de olhares fixos e de grande estranheza. Dentro da piscina, a velha 1 olhava fixamente para a minha mulher que, por sua vez, olhava fixamente para o vazio. Eu olhava fixamente para a frente, de modo a poder ver toda a gente pelos periféricos e percebia que o gay, por alguma razão bizarra, também olhava fixamente para mim. Isto enquanto a velha 2 olhava fixamente para o gay, talvez porque ele a estivesse a orientar enquanto ela fazia um qualquer exercício de reabilitação, talvez porque fantasiasse acerca de sexo gerontófilo com homossexuais... Enfim, não sei. Isto tudo no mais profundo e desconfortável silêncio. Até eu e a minha mulher decidirmos abandonar o local...

Seguiu-se o banho turco e a sauna. O primeiro mais agradável que o outro, verdade seja dita. Não que eu não tivesse curiosidade de saber o que sentiriam os frangos no interior de um forno (se é que um bicho esfolado e decapitado pode realmente sentir alguma coisa...), mas a ausência de colorau barrado nas minhas costas impediu-me de concretizar a experiência em pleno. Já o banho turco está longe de ser um banho e também não percebo porque lhe chamam turco mas parece-me que resulta. Resultava ainda melhor se a velha 2 da piscina não tivesse vindo atrás de nós, enfiado dentro da cabine connosco e começado a ressonar como um elefante marinho com os copos... Mas ao menos deu-me vontade de repetir.

E foi assim, entre experiências como estas, que chegou o momento da tal massagem.
Momento esse que, convém lembrar, foi também para mim uma primeira vez.

Quando avistei o dueto de massagistas, não vou negar que senti um certo alívio. Temia que fossem homens. Primeiro porque, não sendo de todo homofóbico, há um certo tipo de contacto físico que gosto de evitar com indivíduos do mesmo sexo. E segundo porque também tenho tendência para querer evitar que tenham esse mesmo tipo de contacto com a minha mulher. Assim só p'ra manter as coisas dentro do razoável e do limpinho.

Aproximámo-nos da sala e reparei que uma das massagistas tinha um sorriso significativamente mais aberto do que a outra. Portanto, percebi logo quem é que devia ter perdido a aposta e ficado comigo.

A massagem era de corpo inteiro e a menina achou boa ideia colocar-me duas coisas, que não cheguei a perceber o que eram, nos olhos. Lembrei-me dos romanos que colocavam moedas nos olhos dos mortos para os gajos darem ao barqueiro que os levava para o inferno ou lá o que era... Mas duvido bastante que uma coisa tivesse a ver com a outra. Imagino que fossem pétalas ou algo do género... O que devia dar-me um ar ainda menos digno, deitado naquela marquesa. Mas adiante...

Depois, a mulher colocou-me uma almofada por baixo das pernas para facilitar o seu trabalho. E foi aqui que começaram os meus problemas. Uma pessoa normal tem os pés p'rá frente. Um tipo como eu tem os pés pr'a fora à Charlot. Portanto, o que tínhamos agora era um indivíduo anafado (penso que podemos dizer assim) vestido com uns calções de banho com flores à havaiana, pétalas nos olhos e as pernas abertas elevadas e pés p'ra fora como se estivesse a dar à luz. E era esperado que eu relaxasse e ignorasse tudo isto.

Escusado será dizer que estava uma pilha.
Os pensamentos a sucederem-se a mil à hora.

Quando a massagista começou a mexer-me nos pés lembrei-me que teria sido boa ideia ter cortado as unhas no dia anterior. Tinha aparado as das mãos mas (que raio, estava de férias!) a preguiça impedira-me de fazer o mesmo com as outras. Penso que esta situação não fez maravilhas pelo trabalho da massagista que usava toda a sua destreza para conseguir cumprir a tarefa sem se cortar e apanhar tétano. Dedilhava como uma pianista russa enquanto eu procurava protegê-la, afastando tanto quanto possível as garras das suas mãos.

O resto do tempo, não posso dizer que tenha corrido mal. Fui untado dos pés à cabeça como uma enguia de escabeche, e massajado com todas as forças que a mulher tinha para atacar um corpo como este. Não se saiu mal mas digamos que para ela o dia de trabalho deve ter acabado por ali...

No final, disse-me docemente ao ouvido que a massagem tinha terminado e que podia levantar-me ao meu ritmo. Eu, como o meu ritmo é sempre... Como é que se diz... Ah sim, aparvalhado e à bruta, levantei-me para o lado errado da marquesa, aquele onde não estavam os meus chinelos, coisa que podia ter-me saído muito cara. A mim e ao reconstrutor facial da massagista que estava do outro lado.

Ora, esquecendo-me que estava coberto de óleo e portanto escorregadio como aquele americano que foi preso em Sintra, foi num misto de desequilíbrio e de passos de dança à Fred Astaire (se o Fred Astaire fosse bêbado) que fiz a viagem de 180º até aos chinelos, quase, QUASE, esbardalhando-me para cima da pobre massagista.

Ao recuperar a compostura, e perante o olhar de pânico da jovem, disse que até tinha ficado tonto perante o brilhantismo da sua massagem e saí dali p'ra fora, rumo ao quarto do Hotel.

Enfim...

São estas as memórias que levo para o retomar da labuta, do lufa-lufa do dia-a-dia e dos assaltos à mão armada do nosso Primeiro Ministro (que sabe bem o que isso é porque desde os seus tenros 37 aninhos que anda a papar filmes semelhantes no mercado de trabalho). E não são memórias nada más, atendendo àquilo que espera a maioria dos portugueses.

A verdade é que o Natal já não é p'ra todos.
Assim como não é p'ra todos ter um Ângelo Correia como anjinho da guarda (ai o braço esquerdo...)! Mas é em alturas como estas que temos de aprender a patinar, nem que alarvemente... Contrariar o visco e o sebum dos mentirosos e dos corruptos...

Para tentar chegar, sãos e salvos...

... ao grande par de chinelos...

Que é a felicidade.

Friday, October 7, 2011

Prá frente, sempre!

Ora então, dei por mim e estava visivelmente cansado...

Depois de meses e meses a labutar como uma criança de cinco anos no Bangladesh, concluí que precisava mesmo de um merecido período de férias. E daqueles longe da internet, do telemóvel e até da TV e da Playstation... Absolutamente nada a povoar a minha imaginação além dos meus próprios pensamentos dementes. No fundo, aquilo que o meu corpo e mente exigiam era o mais inócuo e sepulcral sossego, daqueles que só a gruta mais inóspita, o buraco mais denso e profundo conseguem proporcionar. Portanto, acabei por ir prá Madeira.

Não que seja a altura mais pacata para lá ir... Sei bem que não é.
Depois da descoberta da dívida que o Governo Regional acumulou durante uma catrefada de anos, e até tentou encobrir no início do levantar deste processo manhoso, dia sim dia não o Alberto João decide vir berrar qualquer disparate em público como mais uma tentativa de atirar areia para os olhos daquela gente... E atenção que isso é coisa para aleijar! Durante a minha estadia percebi que a areia na Madeira é preta e grossa como um comboio na linha de Sintra. Mas enfim, o homem berra como se não houvesse amanhã e nem sequer está muito enervado quando o faz. Berra porque é assim que ele comunica. Ele e todos os que sofrem do conhecido síndrome de Valentim Loureiro, claro. Por um lado, não há dúvida que AJ tem as suas falências mas por outro também é certo que realizou obra por toda a ilha. Eu continuo a duvidar bastante que tenha sido ele a acartar o cimento e a tijoleira pelos montes e vales mas enfim... Que o homem tem a educação de um trolha lá isso tem.

Mas a verdade é que é raro o estabelecimento ou o edifício que não tenha à porta uma placa a dizer que foi inaugurado no dia tal do ano tal pelo ilustre presidente do Governo Regional da Madeira. Estas placas são às pazadas. Tanto que a dada altura até fiquei surpreendido por não ver miúdas também elas com placas ao pescoço a dizer que foram inauguradas aos dezoito anos por AJ. Certamente que vontade não lhe havia de faltar.

Bom, mas voltemos à Madeira propriamente dita... É muito bela, não haja dúvida.

Tem um grande inconveniente. Toda a ilha apresenta um declive de, mais ou menos, 90º. E é sempre a subir.

Lá, não se passeia. Quanto muito escala-se.

Os Madeirenses têm as suas panças, sim senhor. Gorduras a adejar debaixo dos braços, ora muito bem. Mas todos ostentam uns gémeos tão sólidos e definidos que fariam Jean Claude Van Damme chorar de inveja como uma noviça açoitada.

Já eu, durante a minha estadia, não demorei dois dias a sentir as mais agudas das dores nas pernas, passando grande parte do tempo restante a deslocar-me em ziguezague, como um leproso em fase terminal, gemendo a cada passada. Mas porra, se valeu a pena...

Toda a ilha me fez lembrar a Suíça. Não tanto a parte do yoddle e dos bancos mas mais no que concerne ao queijo. Eu sei que nos dias que correm se fala muito de buracos e tal mas, sejamos francos, aquilo está tudo esburacado. São tantos os túneis que povoam a Madeira que quase me fazem crer que esta tem caruncho. Depois, temos um problema. Há efectivamente um Centro de Saúde e uma Escola em cada terrinha, isso há. Mas com os túneis todos acabam por haver estabelecimentos com malta efectiva a trabalhar e a ganhar do belo, a cinco minutos uns dos outros. Portanto, não é preciso ser nenhum yoda em economia para perceber que isto mais tarde ou mais cedo ia dar chispalhada...

E depois há a descida dos cestos. Para quem não sabe é quando nos enfiamos em tobogãs de vime e somos empurrados ilha abaixo por corpulentos madeirenses que, a julgar pelo aspecto e pelas tatuagens nos antebraços, de bom grado nos espetariam de frente no primeiro penhasco se não soubessem que seriam judicialmente punidos por isso. Pode ser um tanto arcaico e até um pouco aparvalhado mas a verdade é que é também bastante divertido. Principalmente depois de passarmos pela experiência e continuarmos a ostentar os dentes da frente.

Há também o Museu da Baleia do Caniçal. Um verdadeiro santuário dividido em dois momentos. No primeiro é-nos dado a sentir um verdadeiro espectáculo de carnificina onde, e juntamente com o suave aroma de sangue e vísceras de baleia, podemos observar como durante décadas a malta da Madeira perseguiu e cortou às postas todos os cachalotes a que conseguiu deitar a unha. Já no segundo, mostram como entretanto se arrependeram e agora os estudam e lhes dão festinhas... Não deixa de ser um contraste um tanto ou quanto abrupto mas acho que resulta.

Além disso há ainda o artesanato de vime da Camacha, o vinho da Madeira, as piscinas naturais de água choca e com cheiro a mijo de Porto de Moniz (nas quais, e com plena consciência que com isso reduzi substancialmente a minha esperança de vida, mergulhei), a poncha, os maracujás, as espetadas...

Tudo coisas espectaculares.

Mas não tão espectaculares como a propaganda eleitoral para as votações que se avizinham.

Ao contrário do que eu pensava, não é só o PPD-PSD que pode promover os seus candidatos. Mas, tal como eu pensava, os outros partidos parecem gozar de substancialmente menos espaço para esse efeito. Há várias situações onde um gigante e titânico AJ, emplastrado num outdoor, aparece rodeado daquilo que parecem pequenos anõezinhos compostos pelos outros candidatos, impressos em cartazes de muito menores dimensões. Pode não ser muito justo mas o efeito é deveras engraçado.

De certa forma, esta diferença de escalas até acaba por castigar a falta de originalidade nos "gritos de guerra" daqueles que pretendem, afinal de contas, fazer um assalto ao poder: "Para salvar a Madeira" diz o aborrecido PS, "Acreditamos nos Madeirenses" diz a maçuda CDU, "ELE NÃO É A MADEIRA!" grita o sempre alarve Bloco de Esquerda enquanto exibe uma foto do olhar sinistro de AJ. Tudo tretas previsíveis e pouco estimulantes, diga-se. Ah e o maluco do Coelho que agora é do Partido Trabalhista também diz qualquer coisa... mas a verdade é que ninguém lhe presta muita atenção.

Seria de prever que numa altura como esta, com tanto fervilhar de emoções e de graves acontecimentos a virem a público, as coisas estivessem menos cinzentas. Mas, verdade seja dita, o único a apresentar uma abordagem objectiva e original foi, uma vez mais, o inevitável PPD-PSD.

Uma beleza apenas comparável à vista da marina do Funchal. Lindo, lindo, lindo.

O lema é : PRÁ FRENTE, SEMPRE! MADEIRA, SEMPRE!

Okay...

Como pano de fundo, há um inebriante gradient do azul para o amarelo e do amarelo para o azul. São as cores da Madeira, 'tá certo, até aí percebo... E o degradé dá-lhe aquele toque de modernidade que nenhum outro partido conseguiu atingir. E depois admirem-se que o homem não saia do poleiro! PRÁ FRENTE, indeed.

Ainda em relação ao slogan, não há maneira de o ler sem que na minha cabeça soe a voz de AJ a berrá-lo. E talvez para isso muito contribua a fotografia do próprio, estampada em cima do gradient, acentuando assim o efeito espectacular.


Sobre a figura de AJ, três aspectos:

- É notório que não tem qualquer pescoço. Do colarinho é espargida uma massa amarelo-rosada que, apesar de algo disforme, adquire um formato que se assemelha a uma cabeça... Assim como aquelas seringas dos bolos a expelir recheio.

- Todo e qualquer sujeito que procure tapar a careca com uns escassos e ralos fiapos de cabelo grisalho merece toda a minha admiração. Não é novidade para ninguém que, em pleno séc. XXI, este truque patético não causa qualquer ilusão (se é que alguma vez causou...) Por isso, quando um bravo se mantém irredutível na defesa desta técnica trompe l'oeil capilar e não se importa de assim aparecer em público, na TV e nos jornais, não me venham cá com AMI's nem com Médicos Sem Fronteiras mas coragem para mim é isto. Tudo o resto é panascaria.

- Urge ainda apontar que nesta foto de AJ não se vê o branco dos olhos. Todo o seu globo ocular aparece preenchido de um negro baço, como os olhos dos tubarões. E é por isso que, se eu fosse Madeirense, nenhum outro candidato me pareceria mais afável e digno de confiança.


Posto isto, não descansei até encontrar um boletim desta campanha com as propostas para o novo mandato. Boletim esse que, e com sacrifício pessoal, resgatei de uma pilha de caca de pombo. Tudo pela liberdade de informação, meus caros. Tudo pela liberdade de informação.

Aquilo que li e que estou prestes a partilhar foi alarmante e esclarecedor.

Antes eu tinha a impressão que AJ era uma espécie de tio bêbado que aparecia nas reuniões de família a gritar obscenidades às quais ninguém dava muita importância entre os olhares cruzados de desconforto. No final, alguém lhe passava uma nota de cinquenta euros para ir comprar mais vinho, ele ia à vida dele e as pessoas normais continuavam a conviver. Dantes eu pensava isto. Depois de ler o boletim, acho que tenho a certeza.

Mas antes de me ir embora e regressar às férias, gostava de aqui vos deixar um cheirinho... Assim só p'ra não dizerem que guardo tudo para mim. Ora então cá vai...


MANIFESTO DO PSD AO POVO DE FUNCHAL (Ui um manifesto... Isto promete. "Morra o Cont'nente morra, Pim!" Capaz de ser mais ou menos isto que nos espera)

AOS MADEIRENSES E PORTOSSANTENSES:

O Povo Madeirense vai eleger o Governo que terá de aguentar o período mais duro desde que a Democracia e a Autonomia Política nasceram com a Constituição de 1976. (Boa, estão a falar de Constituição... Dados os acontecimentos recentes e o avacalhar da mesma, tem de ser bom!)

Os Madeirenses e os Portossantenses vão eleger o Governo Regional que terá de Os conduzir e defender o melhor possível, face à situação gravíssima que os socialistas criaram (O BANDIDO DO SÓCRAS!), que provocou Portugal ficar sob mando estrangeiro (O MALDITO INVASOR!) e, se quiser comer (Quem? Portugal?), ter de aplicar a política que nos foi imposta pela vergonhosa tutela internacional a que chegámos (Como se atreve o FMI a impor políticas?? Não temos cá quem o faça tão bem? Alguém da Madeira, por exemplo...)

Um Governo Regional que terá de demonstrar capacidade para conduzir o arquipélago nas dificílimas situações que, por caírem sobre Portugal, infelizmente caiem também sobre os Madeirenses e os Portossantenses, embora tal não seja justo em relação a um povo que sempre discordou do que se passava, que foi sempre oposição ao próprio sistema político, que sempre alertou Lisboa para os erros desta (Infelizmente o sotaque Madeirense é cerrado e Lisboa não percebeu... De qualquer maneira, o tal "povo", chamemos assim ao governo de AJ, acabou por perder alguma legitimidade no assunto "poupança" quando apresentou um buraco do tamanho da defesa do Sporting).

Portanto, o que agora está em jogo para os Madeirenses e os Portossanteneses (Ok, é preciso estar sempre a repetir o mesmo???), é escolher um Presidente de um Governo Regional que, com o novo Executivo que formar, dê garantias de hábil e inteligentemente enfrentar a situação complicadíssima em que os socialistas nos mergulharam. (MAS QUEM, MEU DEUS?! Se ao menos houvesse um indivíduo grosseiro que só sabe falar a berrar e usar técnicas de inimigo público e de mania da perseguição a la regimes ditatoriais da primeira metade do século XX... MAS ONDE ENCONTRAR TAL PERSONALIDADE?!)

(...)

Depois seguem-se parágrafos intermináveis, praticamente todos eles a dizerem o mesmo, estilo aquelas gravações em loop do filme 1984, a fomentar o ódio pelos socialistas e a glorificar a obra feita pelo actual Governo Regional. Glorificação essa que chega ao ponto de dizer que:

Seria uma covardia, Alberto João Jardim recuar ou desistir no presente quadro. Sabe ao que se arrisca, dadas as dificuldades que vamos ter pela frente, risco de saúde inclusive, quando era mais fácil abandonar ante o que aí vem, levando consigo os sucessos e transformações que conseguiu. (Portanto, estamos na iminência de coroar aqui um mártir. A avaliar por estas palavras pouco falta para AJ vestir um colete de bombas e atirar-se heroicamente para a entrada do buraco orçamental, esperando que a consequente queda de rochas o tape para sempre. Pode ser fantasioso mas não condenem um homem por sonhar acordado...).

Segue-se mais conversa em como os socialistas ficaram a dever dinheiro à Madeira e/ou inclusivamente a roubaram e depois aquele que considero o parágrafo-rei deste maravilhoso boletim. Desde já aviso que é sublime. Ora então cá vai:

Depois de trinta e três anos, a Oposição está desesperada. Não captou pessoas com um mínimo de qualidade, alinhou contra o próprio Povo Madeirense, opôs-se sempre a tudo quanto era progresso, praticou um permanente bota-abaixo, não tem alternativas, só fascina os desordeiros, bêbados, drogados e vadios que infelizmente existem em diversas localidades.

...

Portanto...

Está aqui identificada a Oposição na Madeira.

Isto para que não restem dúvidas.

...

Não sei quanto a vocês mas eu leio isto e parece que ouço Chopin ao longe... De tão lírico e filosófico que é. E ao mesmo tempo também associo aos primórdios da minha infância, não sei se me faço entender. "Quem não gosta de mim é parvo", é comum ouvirmos no Jardim Escola. "Quem não gosta de nós é bêbado ou drogado!", parece que se ouve muito na Madeira. Mainada!

Bom, mais argumentação incendiária até ao fim e, a fechar a peça, 90% do boletim consiste de uma lista das chamadas INAUGURAÇÕES REALIZADAS NO CONCELHO DO FUNCHAL. Um verdadeiro "festival da tesoura".

Aqui encontramos um compêndio infindável com obras tão relevantes como a Creche de Santa Maria Maior, o Lar de Abrigo de Nossa Senhora de Fátima ou a Unidade de Hemodiálise do Hospital do Funchal e outras com consideravelmente menos relevo e até algum nível de suspeita como o Ginásio Big Body Gym, a Padaria Mariazinha II, o Crédito Predial Português (que não existe vai p'ra mais de dez anos) e a Discoteca Vespas. Se calhar não era suposto eu ler isto tudo até ao fim mas, que raio, tinha tempo e li.

E pronto, não vos chateio mais. Se calhar têm a sopa ao lume e de certeza muito mais que fazer.

Cheguei ontem da Madeira e ainda vou ter mais uma semana de férias por isso é possível que o meu período de descanso ainda me dê mais material para fazer pouco...

Eu perco-me para aqui a falar do AJ e de tudo e mais alguma coisa mas a verdade é que não sou nada melhor do que ele. Quando era miúdo roubei uns autocolantes das Tartarugas Ninja a um colega de escola e culpei um outro que usava óculos e tinha asma. Ele levou nos cornos e eu fiquei a ver, com um sorriso na cara. Portanto, em matéria de sem vergonhice não é qualquer um que me dá lições...

Mas entretanto, se viverem no Arquipélago, votem em consciência.
Se, por outro lado, viverem no Continente, rezem para que os outros o façam e a seguir tentem manter o emprego porque são os subsídios de Natal de todos que vão ajudar a pagar o tal buraco. No fundo, acaba por ser menos uma Wii ou um Castelo dos Gormiti que o mimado do vosso puto recebe. E ainda bem porque sem essa importante lição de vida quem sabe se não acabaria por tornar-se num adulto egocêntrico, em alguém com a mania das grandezas ou até, quem sabe...

... no Presidente de um Governo Regional.