Tuesday, June 28, 2011

Tudo o que você queria saber sobre camionetas... e tem vergonha de perguntar

Quem é que aqui odeia autocarros?

Quero ver mãos no ar...

Ena tantas!

São cá dos meus!

Odeio autocarros sim senhor e não tenho vergonha nenhuma de gritá-lo aos sete ventos. Aliás, já o fiz aqui mesmo neste canto internético obscuro há uns quantos anos atrás, num post bem velhinho. Na altura, apelidei-os singelamente de "carripanas de Satanás" e quem tem de andar neles todos os dias não pode deixar de dar-me razão.

Se por outro lado aparecer alguém activista das vis transportadoras de gado humano a mandar-me enfiar as opiniões onde o sol não brilha, a existência de tais criaturas faz com que possa dizer que na minha vida já vi de tudo, a par do clássico porco a andar de bicicleta.

Bom, mas não quero alongar-me demasiado sobre o assunto. Aquilo que me traz aqui hoje é algo ligeiramente diferente...

Dado este meu ódio de estimação não é senão irónico quando me vejo, por razões profissionais, a ir e vir a Beja todas as semanas de camioneta. Não que tenha sido a minha primeira escolha, a camioneta. É que fazer a viagem de carro obrigar-me-ia a passar boa parte do mês sem ter mais do que aquelas folhas velhas de alface que ficam caídas no chão dos supermercados para comer, por não sobrar qualquer dinheiro depois da gasolina e das portagens... E parece que também houve alguém genial que achou que haver comboios para Beja era coisa de finórios e que o melhor era acabar com essas mordomias do catano.

Restou-me a porra da camioneta.

Que, diga-se de passagem, é perigosamente semelhante com "aquele que não dizemos o nome".

Três horas e meia para lá, três horas e meia para cá, sete horas no final do dia... Nem interessa o que vou lá fazer, tanto sacrifício devia valer-me já a canonização e a definição de mártir. Aqui entre nós, não sei bem que benefício me trariam estes títulos ou se me ajudariam a arranjar emprego, mas com certeza não hão-de prejudicar o meu curriculum vitae. Conto é com vocês para tratarem das papeladas com o Vaticano que eu sinto muito cansaço.

Ora bem, o que tenho eu a concluir depois de quase dois meses nestas andanças?

1.
Eu não sou homem suficiente para andar de camioneta. Isto, tal qual. Nos dias de viagem, chego à rodoviária por volta das 6h30. Só para verem a estaleca deste menino. Estaleca que nada tem a ver com virilidade, diga-se. Depois de comprar o bilhete dirijo-me para o café onde bebo a primeira bica do dia. Recentemente, numa destas minhas incursões matinais à cafeína testemunhei a acção de um homem negro que, abrindo a goela como uma avestruz, espetou um copanázio de brandy no bucho mais depressa do que me levou a dizer "CUIDADO, VAI EXPLODIR!!!" Com um cartão de visita destes, tomei logo respeito às camionetas e às pessoas que as frequentam. Sei que sou apenas um estagiário nisto do "camionetismo" (está inventada a palavra) porque se me atrevesse a fazer escorregar uma pomada daquelas pela traqueia adentro assim de manhãzinha faria o caminho de volta borrando-me e largando golfadas de vómito a cada passo até à porta do veículo. Um percurso assim não seria nada honroso e condenar-me-ia a ser gozado em cada viagem.

2.
A malta olha de lado para os betinhos que gostam de sentar-se nos lugares que estão no bilhete. Fosse aquilo uma escola C+S e não uma camioneta, muito calduço havia de assentar no pescoçame de quem andasse com o papelinho na mão à procura do estofo correcto. Eu sei porque fazia isso no início até uma velha me mostrar os caninos da dentadura, rosnando em ameaça. Eu disse-lhe que era só enquanto as outras pessoas não se sentavam, por uma questão de respeito pelo próximo e para não estar a ocupar a cadeira de alguém. Mas ela começou a resmungar, dizendo que era estúpido eu querer aproximar-me a menos de meio metro de uma pessoa sendo que a camioneta ia vazia. E tinha a sua razão, o raio da velha. De facto, só um tarado gerondófilo faria tal coisa... Ou então um palerma como eu. Contive-me uns segundos mais ao seu lado, suando abundantemente da testa, à espera do momento certo para sair daquele que era afinal de contas o lugar que me estava destinado pelo bilhete e ir para um dos outros lugares vazios. Até que, ligeiro como um esquilo, ou então tão ligeiro quanto o meu corpo me permite ser, saltei do lugar e fugi sem olhar para trás, procurando ignorar um resmungar ainda mais intenso da velha morcega. Serviu-me de emenda e nunca mais me sentei no meu lugar. A isto chama-se aprender.

3.
Há malta que não sabe lidar com o enjoo. Pura e simplesmente, não sabe. Quando eu estou enjoado enterro dois dedos na garganta e trato do assunto à boa e velha maneira pirata. Não é nenhum drama nem ninguém morre por causa disso. No outro dia, a meio caminho para Beja, a camioneta parou e o condutor dirigiu-se até meio do veículo para auxiliar um passageiro em dificuldades. Era uma pensionista que estava prestes a vomitar, enjoada como uma vaca no matadouro e que, como não podia deixar de ser, aproveitava para desempenhar um longo papel dramático numa peça de sua autoria. Estivesse lá o La Féria e começava tudo a cantar e a dançar, erguendo a velha em braços de onde saltavam triunfantes a Anabela e o Carlos Quintas. Anyway... a mulher mostrava o seu mais profundo mal-estar através do balido monocórdico e inquietante:

Ai...

Ai...

Ai...

- Quer água, minha senhora? (perguntava o estúpido do motorista que devia estar a fazer a porra do seu trabalho e a levar-me para Beja de modo a poder fazer o meu)

Ai...

Ai...

Ai...

- Ela disse que ia para um funeral e que mal tinha dormido... Está mal disposta. (comentava uma velha que não conhecia a outra mas que fazia questão de relatar para todos os passageiros as conversas que tinham partilhado desde o início da viagem, por irem lado-a-lado)

Ai...

Ai...

Ai...

- Olhe eu acho bem que já não vá a funeral nenhum porque senão ainda fica lá também! (dizia a velha número dois enquanto agarrava num saco de plástico que já continha no interior o vomitado da velha número 1, e quiçá também a sua dentadura. Aqui, tive de me rir).

Ai...

Ai...

Ai...

Ai...

Tive vontade de me levantar do lugar e tirar a mulher do sofrimento apertando-lhe o gargomil. "AI AI AI O QUÊ?! PORRA! VOMITA COMO UM CÃO E MIJA COMO UM HOMEM A SEGUIR QUE EU TENHO DE IR TRABALHAR!!!" (não sei bem porque lhe gritaria tal coisa mas foi o que me ocorreu). Enfim, a velha lá se sentiu melhor e pudemos seguir viagem. Sem ser preciso aviar-lhe uma ou duas chapadas, o que acabou por ser mais simpático. Mas não ganhei para o susto.

4.
Existem camionetas melhores do que outras. De manhã costumo sempre comprar o bilhete de ida e de volta, mas como hoje por exemplo me despachei mais cedo, antecipei um pouco o regresso trocando a passagem na bilheteira. E a verdade é que acertei em cheio! A camioneta das 17h não só tem rede wireless para os passageiros como tem uma TV e até uma hospedeira.... Tipo as dos aviões. Calculo que aquelas que vão trabalhar para a Rede Expressos sejam as que chumbaram nos exames da TAP. A malta que anda de camioneta é que tem de levar com o refugo. No entanto, é engraçado ver a forma como ela fazia o seu trabalho fantasiando que estava numa aeronave. A maneira como fazia os anúncios por microfone aos passageiros, a forma como nos oferecia sandes prontas a comer, a doçura com que me pediu que baixasse o som dos meus phones... Confesso que esta não percebi. A música que estava a ouvir estava demasiado alta. Como se eu fosse um daqueles mitras com o rádio ao ombro a ouvir kizomba. Eu estava muito sossegadinho com o meu mp3 no bolso a ouvir a minha música, sem chatear ninguém e tive de baixar o som porque segundo a tipa "estava demasiado alto". Das duas uma, ou foi só p'ra me chatear (hipótese muito viável) ou então faz parte de um novo serviço de "saúde e cuidado". As hospedeiras das camionetas têm não só de se certificar que temos tudo o que precisamos para uma viagem confortável como também não avacalhamos os tímpanos com o ruído. 'Tá giro! Giro giro também era ver esta alminha ao lado do condutor da camioneta. Uma na base da carreira de hospedeira, outro no topo da carreira de motorista de camionetas. Cada um tem o que merece...


E assim tem sido a minha vida, além de tudo o resto.
Ansiando que estas conclusões me ajudem a sobreviver àquilo que ainda aí vem.

E que um dia, quem sabe, consiga o financiamento para acabar de vez com tudo aquilo que se assemelhe a um pérfido e fedorento autocarro. Eu mando mails mas não me respondem.

Sovinas...

Thursday, June 16, 2011

5 perguntinhas muito breves

Eu sei que tenho aparecido pouco neste nosso convívio... Por favor não batam mais no ceguinho, ok?

Sei também que poucas coisas vos fizeram mais felizes nas últimas semanas do que não receber os meus sempre aborrecidos mails a sugerir para aqui virem ler disparate... Enfim, lamento retirar os sorrisos relaxados das vossas faces e chamar novamente à vossa atenção para coisas que são estúpidas e não têm interesse nenhum.

Tenho andado ausente porquê?!

Precisamente pelas perguntas que marinam na minha cabeça e para as quais não encontro resposta. Isso é daquelas coisas que me tiram o sono, me roubam o cabelo (quem está perto de mim sabe do que falo... há pastagens na Etiópia mais férteis do que o meu couro cabeludo neste momento) e fazem tremelicar o olho esquerdo sempre que muda a hora. Ando cansado e com relativo stress.

E por isso, por estar tão perto da insanidade, considero mais interessante passar o dia com dois copos de iogurte enfiados nas orelhas do que vir para aqui desabafar com um ecrã de computador.

Mas dizia eu que nos últimos tempos estava a ser assombrado por perguntas, não era?
Bom, então aqui vão elas:

5 PERGUNTINHAS MUITO BREVES QUE ME ESTÃO A ROUBAR O JUÍZO

1.
Porque é que, quando eu era miúdo, não podia ver os filmes do Robocop?

Porquê?!
É que eu via os outros todos... Mais e menos violentos. Via os Seagals, os Norris, os Van Dammes, os Stallones e os Schwarzennegers da vida... Porque não o raio do Robocop?! Ainda hoje não percebo qual era o critério do meu pai (por favor explica-me!) mas o que é certo é que só recentemente vi o raio do filme e continuo sem perceber. Ok, tem violência gratuita (sem contarmos com o dinheiro gasto no DVD, claro). Ok, tem partes ordinárias. Ok, tem alguma estupidez. Mas esses três ingredientes, sejamos sinceros, FORAM só por si os anos 90... Quem é que se lembra do "Big Show Sic"? Tinha tudo isto e muito mais! O facto de me ter sido negado o visionamento dos filmes do "Robocop" tem-me tirado o sono por duas razões: porque o conteúdo dos mesmos não era em nada inferior a qualquer dos seriados da autoria do Ediberto Lima e porque é cada vez mais evidente que não me resta grande sanidade nesta bola de bilhar parcamente peluda a que chamo de cabeça.

2.
Porque é que, quando eu era miúdo, não me deixavam comer Suissinhos?

Outra...
Eu sei que como adulto deviam haver mais coisas com que me entreter. Mas só muito recentemente é que comi o meu primeiro Suissinho e isso temos de convir que é deprimente. Deprimente, sobretudo, também por duas razões: porque não há grande razão para mo terem negado no passado e porque é preciso lata e zero de amor próprio para um indivíduo da minha idade e tamanho sair do Pingo Doce com um Suissinho na mão. Vamos lá ver uma coisa: quando eu era pequeno, o conceito de alimento para mim era abrangente. Muito abrangente. Comia TUDO e DE TUDO... tendo especial cuidado para não ingerir coisas saudáveis ou que de uma certa forma me fizessem bem ao organismo. Nisso sempre fui criterioso, não vou mentir. Na altura, talvez achassem que o Suissinho era demasiado nutritivo e que, tendo eu aos 6 anos a compleição de um búfalo adulto, não precisava de mais energia e/ou gordura. Ok, respeito isso... Embora não tenha a certeza que fosse essa a verdadeira razão. Não foi fácil chegar aos 28 anos sem saber ao que sabia aquilo. Agora já sei mas continua a assombrar-me. Malditos queijos!

3.
Porque é que eu comprei uma casa há 8 meses e ainda não estou lá a morar?

Bom, esta é a questão fulcral e aquela que me está a fazer enlouquecer a passos largos. Não é do meu feitio apontar dedos e responsabilizar gente. Mas a culpa é da minha mulher! Ok, talvez não seja só dela... Acho que é um pouco de toda a gente, de todos os seres vivos do mundo que de alguma forma se perfilaram com uma estúpida conjuntura de astros e forças gravitacionais (não sei do que estou a falar mas mais vale aproveitar o embalo e terminar este raciocínio idiota) para que simplesmente não fosse possível usufruir do imóvel que vou andar a pagar até transportar uma algália quando quiser ir ao cinema. Foi o empréstimo, foi a compra, foram as obras, foram os materiais, foi tudo e mais um par de botas. E agora parece que está quase mas claro que eu já não acredito nisso... Daqui a 15 anos se for vivo, pode ser que possa começar a colocar lá os meus tarecos.

4.
Porque é que a minha gata anda feita um docinho conventual?

Esta é fácil: porque está a tomar anti-depressivos.
E confesso que nunca fui tão feliz. A paz impera.
Parece que a bicha começou a bater mal por ter saído da casa de Benfica, onde o vizinho cornudo gostava de enfiar valentes marradas na parede sempre que os decibéis subiam acima do limite estabelecido pelos mosteiros na Idade Média, e transitado para a casa onde estamos em Paço de Arcos. Ao que parece os gatos gostam pouco de mudanças e ficam stressados quando os obrigamos a conhecer um novo ambiente. Não gostar de mudanças eu compreendo, agora ficar passado dos carretos por ter abandonado Benfica onde o conceito de dar os bons dias ao vizinho era escarrar-lhe na cara e urinar-lhe na caixa de correio, já me parece um pouco absurdo. Eu tentei dar-lhe algumas sessões de psicanálise mas como sou contra bater em animais desisti quando acabei por lhe partir uma vassoura no lombo. Os anti-depressivos foram o estágio seguinte, receitados pela veterinária que, mesmo tendo uma arma apontada à cabeça, conseguiu manter a calma e apresentar uma caligrafia perceptível. Portanto, aqueles que dizem que a "letra de médico é ilegível" deviam era calar o bico.

5.
Porque é que duas das perguntas que me assombram remetem ao passado e as outras duas ao presente?

Por razão nenhuma em especial... Estou é a trabalhar demais e, embora agora esteja de férias, continuo a acordar cedo para tratar de assuntos da casa e a bulir sempre que paro. Portanto, neste momento no meu cérebro não há passado nem futuro, há é uma grande bola de cenas, tipo uma miga alentejana gigante, onde se mescla informação. Agora, como é que isto se organiza já é outro assunto completamente diferente para o qual era necessário criar um departamento próprio. Para isso e para o chinês do Futre, que o episódio não está esquecido. Mas lá iremos que isto tem de ser uma coisa de cada vez. Mais uma ou duas semanas, dizem eles, já estarei na nova morada. E depois tudo será diferente. Ou não...