Tuesday, January 25, 2011

Manifesto anti-suíno atrasado mental que me riscou o carro pela segunda vez

BASTA PUM BASTA!

Fosse a Terra mil vezes maior, mais os continentes, oceanos, rios e mares, e havias de arranjar maneira de ainda assim me encontrar e fazer o que fazes melhor: lixar-me a vida com F grande! Meu pulha de merda. Meu suíno atrasado mental.

Porque o fazes não sei.
Só sei que hoje ao chegar ao carro vi nova e enormíssima carrada de bosta em forma de riscalhada em cheio no capô. Eu, que há uns meses culpei o vizinho cornudo, o idoso incontinente e o violador de Telheiras de um outro risco que se exibia, e exibe, em ambas as portas do lado do condutor... Não há dúvida que estas novas evidências deixam estes desgraçados de fora da equação.

Foste tu! Sempre tu.
E não te importaste de gastar do teu deprimente e miserável vencimento para meter umas quantas gotas de combustível na tua caranguejola mecânica e apanhar a A5 para ir de Benfica a Paço d'Arcos repetir a gracinha... Que não tem gracinha nenhuma.

Não sei quem és. Mas mereces morrer.

MORRA O PORCO MORRA! PIM!

Deus, até à data pouco Vos pedi.
Direi mesmo que tirando causas mais nobres como todos os prémios do euromilhões ou uma ou outra vitória do Benfica a minha comunicação convosco tem sido reduzida à absoluta nulidade. Mas hoje, jogo-me a Vossos pés, servil e humilde, para Vos implorar algo que até nem é para mim. É PARA ESTA BESTA SODOMITA QUE RESPIRA O MESMO AR QUE EU!

Fazei com que um Mandingo de dois metros comece a violá-lo hoje e acabe apenas em 2014 aquando dos Santos Populares... 24 horas por dia à bruta. Sem parar para comer nem para dormir. Fazei isso, por misericórdia.

Dai-lhe por favor uma dor de barriga tão grande, mas tão grande, que expluda e se desfaça em trampa em frente das pessoas que mais estima. E que estas levem vinte anos a conseguir tirar a merda seca da pele. Por muito que esfreguem.

Ordenai a leões, panteras e tigres que o devorem ainda vivo mas sem o auxílio de garras e dentes. Que o comam com colheres de chá. E que demorem o tempo que precisarem.

MORRA O PORCO MORRA! PIM!

Eu que trabalho, que pago impostos, que me oriento.
Eu que estaciono nos lugares para isso destinados, recusando-me a barrar o caminho em cima do passeio aos mais debilitados, aos idosos, aos paralíticos.
Eu que, com a minha mulher, só tenho um carro. E estimo-o como se fosse parte da família.

E ainda assim tenho de chegar de manhã e ver aquilo que parece um grotesco e abrutalhado "4" toscamente gravado em cheio no capô?!

4 MURRAÇAS TE PREGARIA EU BEM NO ALTO DA PINHA SE TE APANHASSE, DEMÓNIO APANASCADO DOS INFERNOS!!!

4 EXTINTORES TE ENFIARIA EU NO CU E AINDA ASSIM TE OBRIGARIA A IR DAQUI A SANTIAGO DE COMPOSTELA EM PASSO DE CORRIDA!!!

4 ANOS A ARDER NUM ASSADOR DE CHOURIÇOS GIGANTE ERA O QUE MERECIAS, ENQUANTO TE BANHAVA COM ÁLCOOL ETÍLICO DE 30 EM 30 SEGUNDOS!!!

MORRA O PORCO MORRA! PIM!

És o pus que brota da gangrena da Terra.

És a substância pastosa e fedorenta que sai de um umbigo mal lavado.

És a parte rija da escarreta de um tuberculoso.

És a ténia que se bamboleia no intestino de um boi.

Tu, meu animal, METES-ME NOJO!
E O QUE É DEMAIS É DEMAIS.

PÁRA DE ME RISCAR O CARRO!
Já não tem piada. Aliás, nunca teve. No humor, tal como em tudo, não vales nada.
Péssimo timming, péssimo registo, péssimas punchlines.
Tu fazes "Os Malucos do Riso" parecerem o Ricky Gervais. De tão merdoso e infeliz que és.

MORRA O PORCO MORRA! PIM!

Sei que não é bonito desejar a morte de alguém. De alguém que não sejas tu.
Desejo do fundo do coração que faleças em circunstâncias mesmo muito violentas. Tu, os teus familiares, os teus amigos e toda a gente que te conheça ou que já se tenha cruzado contigo na rua.

Isto excepto eu, os meus familiares e os meus amigos, é claro.

E de bom grado traçaria também eu um risco em todas as gerações que te antecederam, vil e asquerosa lontra! Eliminá-los-ia até aos dinossauros se preciso fosse. E era com alegria que enterraria os caninos na célula que originou a tua pérfida linhagem.

QUERO TANTO QUE MORRAS!!!

E ainda assim, mesmo sendo tu o peido bafiento da Humanidade, há quem te faça o jantar. E quem te cosa as meias. E quem te corte o cabelo.
Que morram também, afogados em enxofre!

E para que saibas, besta quadrada, inimigo declarado, cão pestilento e leproso, estarei com atenção às tuas movimentações. Descobrirei quem és nem que por isso perca casa, emprego e mulher. Porque não se testam os limites de um homem como tu o fizeste. Não se deixam assim centenas de euros para pagar sem ao mesmo tempo assinar um duelo que, da minha parte, será até à morte... CUSTA SABER NÃO CUSTA, COBARDE?!

MORRA O PORCO MORRA! PIM!

És valente no escuro de uma rua à noite não és, espécie de morcego mongolóide?!

Riscas-me o carro e vais para casa dormir. Sem crises de consciência. Sem problemas de maior. Vais dormir, simplesmente.

Oh que alegria me daria lançar sobre a tua cama uma chuva de napalm. Ver-te a correr em chamas, tu, a tua mulher e os teus filhos, e apagar-vos as chamas do corpo num acto piedoso. PARA VOS PEGAR FOGO OUTRA VEZ COM AINDA MAIS INTENSIDADE!!!

Hei-de tocar concertina e fazer sapateado em cima da tua campa enquanto declamo estrofes ordinárias insultando a tua mãe.

Hei-de comer o cerebelo dos teus filhos enquanto brindo com um belo Chianti, ao som de Miles Davis.

Hei-de servir o teu cão recheado com nêsperas, ainda vivo e a respirar, a uma família de etíopes famintos.

Hei-de odiar-te até ao fim dos meus dias.
E só espero que a energia de todo este ódio te cause para já e pelo menos, um fulminante AVC.

MORRA O PORCO MORRA! PIM!

Thursday, January 20, 2011

Os animais são más pessoas

Encontro-me neste preciso momento a escrever no meu portátil, enfiadinho na cama porque apanhei p'raí uma carraspana exótica difícil de identificar. Na dúvida, chamo-lhe virose. Um velho truque que os médicos utilizam quando não sabem o que é que um gajo tem. Ou dizem que não tem nada e arriscam-se a levar com um processo se o indivíduo patinar ou dizem que é uma virose e aconteça o que acontecer estão safos. Malta esperta, os médicos.

Mas não é disso que quero falar hoje...

Enquanto procuro equilibrar o computador no colo, fazendo com que a máxima percentagem do meu corpo esteja debaixo das cobertas e a apanhar o tradicional e muito terapêutico "quente", a minha gata está aos gritos e às cabeçadas à mobília do hall de entrada.

Porquê?
Porque sim.
Porque pode.

Claro que podia ter algum respeito pela minha condição enferma, assim como podia respeitar o meu sono e o da minha cara metade quando decide acordar-nos todo o santo dia de manhã com miados e lamúrias. A minha gata parece-me uma daquelas ciganas romenas que não larga as pessoas nem por nada, cheia de pieguices, a pedir esmola. A diferença é que a minha gata não pede esmola, ela não quer saber disso. Na verdade não quer nada. A não ser chatear.

Eu gosto de bichos mas desconfio que eles não vão muito com a minha cara.
Além do mais não os entendo. Invariavelmente a nossa relação acaba por seguir no caminho do absurdo, como um sketch sem piada de uns quaisquer "Malucos do Riso" finlandeses... Aprecio animais assim como aprecio as pinturas do Miró: faz-me sentir bem cá dentro mas não percebo patavina do que se está a passar.

A minha gata é apenas um dos exemplos.
Veio cá para casa como gato. Foi assim que a apresentaram e foi assim que ela se comportou nos primeiros meses. Enchia-me de orgulho. Finalmente tinha junto a mim um astuto companheiro de brincadeiras, outro macho com quem beber uma bejeca fresca ao final do dia e falar de bola. Ah e também o adereço ideal para as minhas imitações de vilão de James Bond... Mas isso já prometi que não voltaria a fazer. Pelo menos não em público.

Um belo dia vou ao veterinário e ele dá-me a notícia de que o que tinha em mãos não era na realidade um magnífico e viril exemplar macho mas sim uma fêmea com um corpo um pouco mais masculino. Uma espécie de Dina, a cantora de "Amor de Água Fresca", mas em gato. E eu tudo bem. Tal qual Nené, a antiga vedeta do Benfica que não sujava os calções, que um dia descobriu que o que tinha em casa não era bem aquilo que esperava, aceitei o que o destino me oferecia e perdoei as mentiras e os enganos protagonizados pela criatura. Perdoei mas não esqueci, claro está.

Os animais são más pessoas, a verdade é essa. Não é à toa que lhes chamam "animais"...
É que uma boa percentagem deles são umas verdadeiras bestas!

Convém não esquecer que damos cama e comida a esta ingrata de bigodes! E só não damos roupa lavada porque a quantidade de pêlo que ela produz e perde todos os dias dava para começar um negócio de mantas. Escusado será descrever as maravilhas que este isto faz pela higiene aqui do poiso...

Até porque não é só a gata que cá mora. Damos também guarida a uma coelha que, à falta de melhor termo, é aquilo que de mais semelhante conheço com o próprio anticristo.

Relembro também (peço desculpa por estar a desbobinar tanta coisa a meu favor mas é hora de dizer algumas verdades a estas duas) que fui comprar a sacana das orelhas compridas a um shopping manhoso e que ela na altura tinha mais sarna que uma prostituta em Saigão. Mas será que isso me demoveu? Não, senhores. Não é esse o tipo de pessoa que eu sou. Levei-a na mesma, ofereci-a à minha mulher e foi com muito orgulho que a vi durante meses a tratar a doença da coelha, a levá-la ao veterinário, a aplicar-lhe remédio nas chagas, a comprar-lhe os medicamentos, etc. O tipo de coisa que me devia fazer estar num pedestal aos olhos do bicho... Mas não é isso que acontece.

Odeia-me de morte.
Olha para mim de lado com um esgar de "Se te apanho a dormir, arranco-te a jugular à dentada e faço ninho no teu fígado ó filha da p**a!!!"
Eu faço que não é nada comigo mas sei bem que a única coisa que garante a minha segurança é o simples facto de ter mais de dez vezes o tamanho dela. Parecendo que não, faz diferença.

Mas ao menos a coelha tenta-me morder apenas em situações triviais como quando me chego demasiado perto da gaiola ou quando estou a tentar enfiá-la dentro de uma panela de água a ferver. Isso eu compreendo. Agora a gata devia saber melhor. Devia ter a noção que às 6:30 da manhã as pessoas estão na altura mais gostosa do soninho. Exactamente naquela fase em que faz muita diferença ter um animal aos guinchos no quarto ou a raspar com as unhas nas portas do armário. Às 6:30, fazerem-me este tipo de coisas é equivalente a servirem-me um pequeno almoço de café com leite e testículos de boi. Muito desagradável.

Confesso que já perdi a cabeça por uma vez ou outra e arremessei o chinelo contra o demónio. Sempre sem sucesso porque, no fundo, é isso mesmo que ela quer. Que eu me descontrole e passe a ser mais um a usar pijama mesmo durante o dia e a tomar as refeições por uma palhinha. Mas eu recuso-me a dar-lhe esse gostinho.

Vale a pena recuar até aos anos 90 quando, ainda em casa de meus pais, tive um pequeno peixinho cor de laranja chamado Aníbal. O peixe tinha este nome por duas razões fundamentais: primeiro porque sendo laranja fazia sentido que tivesse o primeiro nome do conhecido político do PSD, e actual Presidente da República, Cavaco Silva e segundo porque na altura eu era AINDA mais estúpido do que sou hoje. Era Aníbal, o peixinho. E rodopiava no seu aquário de balão todo o santo dia. Que mais havia para fazer ali? O comportamento obsessivo do animal não era mais do que compreensível, diga-se.

Vai daí, uma manhã, encontrei o Aníbal inerte no chão. Deitado de lado, ainda com um movimento leve de barbatanas, fazendo antever que não teria sido há muito que saltara do aquário, feito idiota, tendo ido parar às tábuas do soalho.

Grito mudo.

Pânico.

O meu Aníbal, quase morto.

O meu animal de estimação.

...

Peguei nele com jeitinho.

Icei-o do chão.

E depositei-o de novo na sua casa de vidro.

Ainda vivia, o malandro.

...

Podia ser uma bonita história com final feliz não fosse o desgraçado ter ficado com metade do corpo colada ao chão. Nesse momento, assemelhava-se muitíssimo ao vilão Two-Face, das histórias do Batman, e o seu aspecto era deveras grotesco. Do lado direito, vigoroso como sempre: olho brilhante, barbatana vivaça, escamas impecáveis. Do lado esquerdo, um cadáver autêntico: nem olho, nem barbatana, nem escamas nem nada de nada. O Aníbal era agora um ser "especial" e nem o facto de apenas conseguir nadar em 360º por só ter uma barbatana me fez desitir dele. E assim foi até ao dia em que partiu. Ou seja, o dia seguinte.

Bom, esta história de terror toda p'ra quê?
Nem eu sei bem.

Acho que era para provar que sou um tipo porreiro para os animais em geral e eles, em geral, são maus para mim. Para mim e para a grande maioria das pessoas, é importante referir. Falemos de pandas, por exemplo. Os bichos há décadas que dão a dica que não estão interessados em continuar por aqui, que estão prontos para o estágio seguinte da existência. Basicamente, desistiram de pinar. E não há um dia que passe que os chineses não vão lá espicaçar os ursos, mostrando-lhes vídeos pornográficos e citando-lhes poemas lascivos. Querem à força ter mais pandas no mundo, nem que tenham de matar todos os pandas para consegui-lo.

Curiosa a forma como os animais conseguem lixar o sistema.
E fazem-no conscientemente, não me venham com cantigas a dizer que os bichos são ingénuos e todos uns santinhos. Eles sabem o que fazem e se o fazem é porque de alguma forma o merecemos. Pelo pardieiro em que conseguimos transformar este planeta, merecemo-lo sem dúvida. Aí tenho de dizer também eu mea culpa.

E talvez por isso nem tenha ficado muito ofendido quando em plena agitação matinal arremessei a minha pantufa... E entre um ou outro flash ensonado... Penso ter visto a minha gata virar-se para mim e fazer um gesto feio com a pata.

Definitivamente, acho que estamos em guerra.

Thursday, January 6, 2011

Isto promete...

Com que então ouvi dizer que andava por aí um ano novo...
Diz que se chama 2011. E também diz que promete invadir-nos o recto tal qual um supositório XXL. Isto é o que se diz.
Assim à primeira vista, 2011 parece-me aqueles putos que ainda nem sequer falam mas já auguram vir a ser uns marginais do pior, que um gajo olha para eles e não há dúvida que aos doze anos já fizeram dois filhos à educadora de infância e um ao psicólogo da casa de correcção. O novo ano, embora ainda recém-nascido, não engana ninguém. Vai ser uma besta!

Como eu já sabia disto tudo mesmo antes de olhar para o imberbe na cara, decidi fugir para bem longe na passagem de ano. Para um local tão estranho e inóspito que nem o mais astuto dos anos me encontraria... Há que dizer que 1986 esteve lá muito perto, mas não conseguiu ir além da estação de serviço de Viseu. Isto porque se enganou e pôs gasóleo em vez de gasolina no depósito. E, como todos sabemos, a partir da década de 80, os anos passaram a andar a Sem Chumbo 95.

Bom, estupidez extrema aparte, convém desvendar desde já que decidi ir passar o fim de ano a Bragança.

Sim, a Bragança que fica no extremo norte de Portugal.

Isto porque, à falta de melhores termos, sou um erudito incorrigível, sedento por cultura, partindo em busca das mais ancestrais tradições pagãs das aldeias no acolher do novo ano. E também porque me interessava bastante encher o bandulho à grande e à transmontana. Digamos que tudo contribuiu um bocadinho, vá.

Uma das tradições da região é a chamada "Festa dos Rapazes", em que jovens solteiros saem das suas casas de garrafa de aguardente em punho, cantando e dançando, na ânsia de impressionar as mulheres. E, pensando bem, a diferença entre um grupo de "jovens solteiros" e outro de "alcoólicos exibicionistas" acaba por ser uma e só uma palavra: tradição. É que também já assisti a tradições deste género no Bairro Alto, por exemplo. E, escusado será dizer que nenhuma delas acabou bem.

Mas eu lá fui. E confesso que não foi fácil explicar a alguns amigos meus que ia fazer centenas de quilómetros para ir a uma "festa de rapazes". Mesmo dizendo que a minha mulher iria naturalmente comigo, houve olhares de soslaio que eu preferia que não tivessem acontecido. Enfim, lá fui. E convém dizer que Bragança é longe p'ra c*****o. Demora-se quase um dia inteiro a lá chegar! E eu pensava que isto só acontecia no tempo dos reis...

Alojamento? Hotel Íbis.
Sim, porque se é para festejar o fim de ano, não se olha a despesas. Só do bom e do melhor aqui p'ró campeão.

Bragança em si é interessante. E em mim acabou por ser interessante também.
Não havia muita gente na rua, apesar de não estar muito frio, o que me levou a desconfiar de um de dois cenários possíveis: ou as pessoas estavam todas na parte boa da cidade, parte essa que acabei por não ver, ou então andava tudo a fugir de mim que não faço a barba há quase um mês.
Seja como for, tive sempre a ideia de estar a explorar um cenário de um filme em que faltavam claramente os figurantes. E os poucos que havia, repetiam-se: vi o mesmo casal mais do que uma vez, o que me leva a crer que até na longa metragem que é a minha vida se começam a sentir cortes orçamentais. Os mesmos tipos que fazem de donos do restaurante onde vou almoçar são forçados a correr, colocando bigodes e fardas ao mesmo tempo, para fazerem de agentes da GNR que me irão fazer parar numa operação stop mais à frente. E provavelmente multar-me pelo vinho que me serviram há uma hora atrás. Enfim, tudo isto é muito confuso.

O jantar de fim de ano foi agradável, como são todos na companhia da minha linda mulher (uma das resoluções de ano novo, como já devem ter reparado, é convencê-la a fazer mais vezes sushi). Depois de sairmos do restaurante, às 23h, partimos em busca do local da "animação". Não havia. Quer dizer, local havia, não me interpretem mal. Haviam vários até, que Bragança não é assim tão pequena. Mas "animação" nem vê-la.

O que é que se faz quando falta meia hora para a passagem do ano e não se encontra mais de 6 pessoas juntas em lado nenhum? Vai-se para o castelo, claro está.

Na zona do castelo de Bragança, além de três pensionistas embriagados que aqueciam as mãos ao calor de uma grande fogueira, ou madeiro como lhe chamam por lá, estava também um super deprimente grupo de saloios que claramente viu pela primeira vez o passar do ano fora da casa dos pais. E se estavam bêbados, os imbecis... Pelo menos os guinchos que as moças soltavam, muralha fora, a isso apontavam. Ou era bebedeira ou era cio. E eu desejei ardentemente pela primeira hipótese.

Às 23h45 apeteceu-me urinar, não vou mentir. E na ausência de casa de banho a solução foi a muralha do castelo. Portanto, acabei 2010 como um javardo que mija para cima do património nacional e iniciei 2011 como o único indivíduo lúcido entre uma trupe de cavalgaduras bêbadas (excluindo a minha linda mulher, é claro. Eu já disse que ela é linda? Ah pois disse. Bom, mas nunca é demais repetir...)

Chegando a altura da contagem decrescente, como é óbvio cada um contou para o seu lado. Eu decidi não ligar a isso porque é certo que não há nada mais espalhafatoso que uma valente catrefada de fogo de artifício para indicar a meia noite.

4...

3...

2...

1...

PÁ (foguete)

PÁ (foguete)

...

...

...

E mais nada.

Acabou-se a festa.
Dois foguetes, xixi, cama. Foi mais ou menos esta a mensagem que Bragança quis passar.

E eu tudo bem... Como não gosto de contrariar ninguém, e muito menos uma cidade, assim fiz. Afinal de contas, havia uma suite no espanpanante Íbis a chamar por mim.

No dia seguinte, a minha linda mulher (gosto mais do sushi com abacate do que com pepino, é bom não esquecer) amanheceu a mostrar-me uma lista das aldeias envolventes e das suas tradições de fim de ano. Afinal a Festa dos Rapazes era mais na altura do Dia de Reis, coisa que muito me teria aborrecido caso eu fosse um homossexual ensandecido e sedento por privar com adolescentes ébrios de faces rosadas. Porém, como evidentemente não sou nada disso, pelo menos da última vez que olhei para o BI, essa "desfeita" foi-me completamente indiferente.

A boa notícia é que não faltavam rituais por aquelas terrinhas fora.
A má notícia é que os mais giros aconteciam nas aldeias que estavam mais longe.

Portanto, lá nos metemos no carro. Prestes a fazer oitenta quilómetros para ver tipos mascarados a fazer macacadas. Não me ocorre melhor maneira de começar o novo ano.
Quando chegámos à primeira paragem, não só não se viam macacadas como também não se via ninguém nas ruas. "Que surpresa chocante! E isto que estava a correr tão bem...", pensei eu. Ao sairmos da viatura, eu e a minha mulher ficámos em silêncio a olhar para a igreja local. Para isso e para o conta-quilómetros do nosso carro, que em dois dias tinha feito o equivalente a cinco voltas à Sibéria sem atalhos. Foi então que começámos a ouvir um som característico, o som das gaitas de foles. A festa estava a decorrer e não podia estar longe! Aquilo era tão pequeno que nada era longe. Corremos que nem loucos, de máquina fotográfica em punho, livres como crianças para ver o maravilhoso espectáculo pagão que 2011 nos reservava.

A música inebriante. Tão linda. Tão melodiosa.

Corríamos, entusiasmados.

Cada vez mais perto.

Linda, a música.

Linda, a minha mulher, a correr.

Ofegante, obeso, também eu corria.

Mais perto.

Música.

Mulher.

Obeso.

Corrida.

A festa era já ao virar da esquina.

Estávamos lá quase!!!

Virámos a esquina...

Acabou!

...

...

Foi mais ou menos isto.
Metemo-nos no carro e fomos embora.

Ainda visitámos mais uma aldeia para ver um tipo com pinta de ex-toxicodependente vestido de diabo, ou lá o que era, a bambolear-se em troca de uma ou duas moedas. Nada que não se veja em Arroios durante o ano todo, diga-se. Por isso, metemo-nos novamente no carro e voltámos para Bragança.

E foi assim, em traços muito gerais, que entrei no novo ano.
Claro que fora isto, passeei muito, comi e bebi como deve ser, partilhei momentos especiais com a minha mulher, que é linda, by the way, e fiquei a conhecer coisas que não conhecia. Escusava era de ter ido p'ra tão longe, porra! Mas agora já está, já está...

Não sei se entrei em 2011 com o pé direito se com o pé esquerdo. Seja como for, sei que devo ter entrado com ambos os pés nos pedais do carro porque pouco mais fiz no fim de semana.

Quanto aos rapazes da Festa dos Rapazes, não sei se já a organizaram ou não mas procurem não se embebedar demasiado sob pena de acordarem de manhã ao lado do Manel da Drogaria. Isso ou na cama da velha do cabelo roxo que mora no prédio onde eu trabalho... Já falei sobre ela no passado.

Afinal de contas nem toda a gente pode ter a minha sorte e acordar todos os dias ao lado de uma mulher que é linda...

E que bem que ela faz sushi!