Tuesday, November 8, 2011

DECLARAÇÃO DE GUERRA AOS MEUS GATOS

Ao oitavo dia do mês de Novembro de 2011, eu, Saguim, declaro por minha honra a abertura das hostilidades para com os dois demónios felinos que habitam em minha residência sem qualquer abertura a negociações ou a diplomacia. Estou em plena posse das minhas faculdades mentais e perfeitamente consciente de que tal confronto provocará casualidades mas estou disposto a correr o risco, a bem da humanidade, da paz no mundo e dos meus sofás.

Por Marte, deus da guerra, prometo que tombarão em batalha! Ai tombarão tombarão!

Esta Declaração é assim dirigida a dois indivíduos de orelhas triangulares, aqueles que, daqui em diante, apelidarei de meus inimigos mortais... ou mais simplesmente de bandalhos.

a) MARISCO. Pelagem branca e cinzenta. Nariz cor de rosa como o de um porco. Barriga proeminente por enfardar como um bruto a ração que trabalho de sol a sol para lhe comprar. Se pudesse ou soubesse como, tenho a certeza que me arrotaria na cara depois de cada refeição, entre outras coisas piores. Tenho documentos que provam que se trata efectivamente do Anticristo embora o Vaticano não queira, porque tem medo, confirmar esta verdade. É manhoso, o c****o! É manhoso! A sua influência na minha vida é fácil de calcular em euros por tudo aquilo que esfrangalha / avacalha propositadamente. A saber, em jeito de inventário, caso seja no futuro condenado a pagar-me uma qualquer indemnização:


1) A porta da cozinha.

2) Três rolos de papel de cozinha e meio.

3) O sofá da sala.

4) O tapete da sala.

5) O batente da porta da sala.

6) A colcha da cama.

7) O batente da porta do quarto

8) O tapete tunisino que tenho na parede.

9) Um outro tapete, mas agora de rato.

10) O teclado do computador da minha mulher.

11) O cabo do meu disco externo.

12) O cabo do transformador da aparafusadora do IKEA.

13) Um lápis, uma caneta e mais material de escritório diverso.

14) O meu sistema nervoso.


Serve a presente missiva também para alertar acerca das tácticas persuasivas do inimigo. É importante ser impermeável ao ronronar e ao aspecto fofo da besta sempre que está "com soninho e quer colo". A total indiferença a esta estratégia vil atribui à partida uma vantagem de 50% no confronto bélico.


Pontos fortes:

- É notavelmente atlético e rápido.

- Tem garras e dentes que aleijam razoavelmente.

- O seu poder de persuação demoníaca pode influenciar a opinião exterior, nomeadamente vizinhos e familiares.


Pontos fracos:

- É burro.

- Não tem lá muita força.

- É brutalmente curioso, lá está, devido à burrice.


Feito este balanço, a vitória deverá ser garantida dentro de poucas semanas, depois de confrontos que adivinho ferozes. O ordinário é burro, disso não resta a mais pequena dúvida. Qualquer pequeno som ou movimento atraem a sua atenção e conduzem-no aos mais variados perigos como uma flauta de Hamelin. O Natal está próximo e a montagem da árvore não promete nada de bom ou de tranquilo. Aproveitando esse facto, regarei o amontoado de piaçabas verdes a que chamo de pinheiro de Natal com querosene e colocarei um rastilho que acenderei em tempo útil. Atraído pelas faíscas, com aquele ar aparvalhado típico das avestruzes (que também não podem ver nada brilhante) que lhe é característico, estou certo que com sorte terei marisco flambé para a ceia. Cheque-mate, eu ganho.


One down, one to go.


b) JACKIE. Pelagem negra. Espírito gótico e/ou satânico. A maior fabricante de pêlo do mundo em título e a principal responsável pela minha casa parecer, ao final de cada semana, uma casa de alterne romena. Em ruínas. Este é, sem sombra de dúvidas, o adversário mais poderoso e difícil de derrotar. Enquanto que o outro palhaço todos os dias me espanta com a sua estupidez e alegria em ser tão mau, esta destrói-me a alma aos poucos e faz-me questionar acerca da minha própria existência, do meu valor como ser humano. O outro arranha-me a mobília, esta arranha-me a psique. Ah e também aprecia mictar e defecar, chamemos-lhe assim, onde bem lhe apetece. E diz-se ela uma senhora. A saber:


1) No sofá da sala.

2) Na banheira.

3) No sofá do escritório.

4) No chão do escritório.

5) Na minha cama (graças a Deus pela capa de colchão impermeável que a minha santa sogra se lembrou de nos oferecer em tempo útil).


Por causa deste morcego dos infernos somos obrigados a viver numa casa com as portas todas fechadas, como um caixão com assoalhadas. Por causa desta coisa ruim, temos de estar constantemente em sobressalto, a limpar e a desinfectar coisas dos mais variados materiais e tecidos. E até foi por causa deste espírito do mal que decidimos trazer o outro gato lá para casa... E penso que já todos percebemos como é que isso resultou.

A bicha continua a fazer as mesmas trafulhices que fazia antes e talvez até mais. Os dois fuinhas não se dão propriamente mal mas a única forma que têm de interagir ou de "brincar", como certamente pensam naquelas cabecinhas dementes, é de tal forma violenta e abrutalhada que deixou de ser permitido a crianças visitarem a minha casa (atenção, não é que tivesse o hábito de levar crianças para lá, não me interpretem mal).

Entretanto uma amiga nossa enviou-nos uns links na net que provam que o inimigo talvez tenha uma patologia ao nível psicológico. Mas eu acho que isso tudo é treta. Acho que faz tudo parte de um plano pérfido para me expulsar, a mim e à minha mulher, e poder impor finalmente a sua PAX DIABOLICA com muitas missas negras e outras merdas que ela lá quer fazer. No desespero por resolver-lhe o problema e trazer-lhe maior qualidade de vida, acedi até a conceder-lhe um dos quartos que não foi ainda arrumado. Para que pudesse fugir da agitação do outro, tivesse a sua wc privada e pudesse relaxar em sossego. Mas será que isso ajudou? Não! Nunca! Continua a fazer o mesmo e a levar-me aos 80€ de cada vez sempre que vai ao médico. A galdéria!


Pontos fortes:

- Consegue camuflar-se no escuro.

- Tem garras e dentes que aleijam mais do que razoavelmente.

- Não tem compaixão pelos outros seres vivos.


Pontos fracos:

- A sua adoração por biscoitos de gato.

- A dificuldade que terá em aliar-se ao outro, caso fiquem encurralados.

- O seu espírito negro e depressivo, que pode virar-se contra ela.


Feitas as contas, será um adversário bem mais complicado de derrotar mas estou certo que no final a contenda ser-me-á favorável. O outro é pegar-lhe fogo e está o assunto resolvido. Esta terá de provar do seu próprio remédio por todas as vezes que me obrigou, a mim e à minha mulher, a passar noites em claro em busca de uma solução para os seus problemas existenciais, de uma forma milagrosa de lhe trazer felicidade, de aliviar-lhe as maleitas e as feridas na alma. Não, uma maldade assim só pode ser enfrentada pelas mesmas armas!

Tenciono arranjar audiobooks da obra completa do pensador francês Michel Focault, com especial ênfase nos livros "A Sociedade Punitiva", "A Hermenêutica do Sujeito" e "A Microfísica do Poder". Depois deixo-os a tocar em altos berros quando vou trabalhar de manhã, não antes de lhe mijar valentemente na tijela da comida para que saiba o que custa. Tenho a certeza que ao fim da primeira semana, a quantidade de caraminholas que terá na cabeça farão com que finalmente chegue a um ponto de não retorno: tornar-se na gata submissa, pacata e avessa a qualquer coisa que me chateie os cornos que sempre desejei que fosse... ou não aguentar e pôr cobro à sua existência enforcando-se com uma das meias da minha mulher.

Nos dias que correm, qualquer das soluções me serve.

...

Assim sendo, e porque nunca é demais recordar, ao oitavo dia do mês de Novembro de 2011, eu, Saguim, declaro por minha honra a abertura das hostilidades para com os dois demónios felinos que habitam em minha residência.

Agora é só imprimir isto, espalhar pela casa...

... e esperar a porra da retaliação.

7 comments:

ana oliveira said...

E eu... abro neste momento...guerra aberta a tí Saguim d'um raio!
Porquê?
DEIXA A MINHA JACKIE EM PAAAAZZZZ!

André Oliveira said...

Nesta guerra onde cabem 3 cabem 4. Venham de lá esses chaimites!

Paulo António said...

Oh, barbudo! Deixa os meus queridos em paz.

máriomota said...

Sofia! Tens de arranjar máquina de filmar.
Olha que vai dar um bom filme, ai vai, vai…
Está-se mesmo a ver. O quarto inimigo entra em cena… mas atenção! Por certo vai entrar “Ben” também.

máriomota said...

Sofia! Tens de arranjar máquina de filmar?
Olha que vai dar um bom filme... ai vai, vai.
Está-se mesmo a ver... o quarto inimigo entra em cena… mas atenção! Por certo vai entrar “Ben” também.

André Oliveira said...

Ui que já aqui temos mólhada da grossa!

Bela Monstro said...

hehe também tenho dessas criaturas de orelhas triangulares a viver debaixo do meu tecto. São dois, pretos e chamo-lhes "gatazanas" (um mix entre gato e ratazana). Ah! E são GIGANTES.