Sunday, July 18, 2010

Ah a praia

Ah a praia...

A brisa suave que enternece os corpos semi-nus, expostos ao calor da nossa maior estrela, dona da luz sagrada que alimenta corpo e alma.

Ah a maravilhosa praia...


Não sou grande fã.


Hoje passei por uma. Não estava tempo para isso mas ainda assim apeteceu-me lá tomar café. E como também não tinha mais nada para fazer, decidi tirar partido do computador e dissertei... Dissertei sobre o que se passava à minha volta.

Cá vai...


"É praticamente meio-dia e estou sentado, de portátil ao colo, numa esplanada da praia do Baleal. Perto de Peniche. Estou aqui sentado a escrever baboseiras porque, e apesar das centenas de pessoas que se encontram a chafurdar na areia e nas ondas neste preciso momento, NÃO ESTÁ TEMPO DE PRAIA. Ok?

É que às vezes parece que tenho de gritar para me darem alguma atenção. Isto cansa, pá!

Ora bem, porque é que eu digo que não está tempo de praia?
Porque está frio e o céu está encoberto. Isto para mim é não estar tempo de praia.

Mas claro que há sempre um magote de jagunços a pensar o contrário. Deus os abençoe.

Eu cá não entrava nesta água hoje nem que o Figueiras (porque todos sabemos que na altura das férias o Figueiras entra em acção e substitui a maior parte dos apresentadores de concursos da SIC) me oferecesse um milhão de euros ou uma noite com uma espantosa modelo - viram como não indiquei o nome da modelo? Para me salvaguardar de possíveis represálias ou olhares de nojo lançados pela minha mulher. Isto é assim, escrever disparates muito bem mas sempre com um olho no burro e outro no cigano, que este menino ninguém apanha desprevenido. É o apanhas!

Bom, se no caso da modelo ver-me-ia forçado a rejeitar a oferta graças ao amor incondicional que sinto pela minha cara-metade (embrulha!) já no caso do dinheiro só não aceitaria porque então um milhão de euros seria efectivamente o preço da minha morte.

Se eu entrasse neste mar morreria.

Sem pestanejar.

Sem um último insulto aos meus inimigos.

Sem mais nada.

Bom, neste momento a questão para a qual se exige resposta é: porque estou eu a escrever estas linhas agora?

Porque a praia é um palco de bizarria que me merece comentário.

Primeiro: EU estou cá.
A partir daqui deveria ser sempre a subir não é? Mas não é.

Ainda agora se levantou uma estrangeira que se sentou na minha mesa a beber um galão. Eu só a autorizei a tirar uma cadeira mas ela achou que esse consentimento se alargava a ocupar 50% do meu espaço. Ah e quando eu falo em estrangeira falo em 80 quilos de norueguesa! Daquelas que, com uma patada, me viraria a cabeça ao contrário, a 180º, como aquele famoso golpe do Bruce Lee que punha os inimigos a “nanar”. Pronto, ao menos agora a Helga foi à vida dela. Já não é mau.

Há pouco, à minha esquerda um emigrante português quase certamente radicado em França, gritava obscenidades em conversa amena com a mulher. Pelo que percebi, não estava zangado com ela, estava zangado com uma qualquer situação. E as obscenidades, gritadas num misto das duas línguas, portanto em luso-francês, não suscitavam na esposa qualquer reacção adversa mas sim um olhar de respeito e admiração.

Quero isso para mim.

Amanhã ao pequeno almoço vou experimentar ser ordinário com a minha mulher em luso-francês. A ver se resulta.

À minha direita, bamboleia-se uma mulher a quem me apetece pedir por Deus para não voltar a usar biquíni. Claro que todos nós temos o direito democrático de o usar, eu incluído, mas quando o nosso corpo se assemelha a uma alforreca gigante, isso deveria ficar automaticamente fora de questão.

Também à minha direita, uma septuagenária vagueia confusa por entre as mesas da esplanada. A julgar pela atitude e pela maneira como está vestida, dá a entender que veio aqui ter por engano. Seguiu uma indicação errada para a Pastelaria Versalhes, fornecida ou por mim ou por outra septuagenária, e quando deu por ela estava a ouvir os berros irados do emigrante. Eu podia ajudá-la mas sempre me foi incutido que não devemos falar com estranhos.

E se esta velha tem um olhar sinistro...

Ao topar para o horizonte, sou obrigado a constatar que este tempo manhoso não afasta os fiéis resistentes aqui da praia. Como os admiro…

A sua incontrolável fixação pelo “tostanço” faz com que para aqui viessem mesmo que houvesse alerta de tsunami. “É da maneira que corre uma aragenzinha...”, diriam eles, amarrados aos bares de praia. Os bravos.

Isto lembra-me que ontem, aqui mesmo neste local, vi uma rapariga cuja pele se assemelhava ao tipo de madeira que os meus pais têm no tecto do corredor de casa deles. Mogno.

E a miúda era loira, daquelas que costumam ser muito branquinhas.

É nestas alturas que recordo o saudoso Michael Jackson…aquilo que o homem teve de ouvir, as bocas, as críticas e os risos de gozo… e tudo o que sempre quis fazer foi o inverso DAQUILO QUE FAZEM TODOS OS OUTROS NO PLANETA!

Se um branco quer ser preto, é sexy e atraente.

Se um preto que ser branco, é maluco, é esquizo e é freak.

E ainda por cima é pedófilo.

Para acamar.

Vá-se lá perceber o mundo...

Chegou uma nova família aqui à praia.
Os miúdos têm pouca vontade de se aventurar pelo areal adentro. Uma das crianças puxa os calções do pai, suplicando: “Mas está bué da vento...”

O pai ignora.

E atendendo ao aspecto do bicho considero já ser uma grande sorte não ter aplicado a tão portuguesa lambada no focinho ao garoto.

Já os vejo lá ao fundo.

Os pais determinados, faça frio, chuva ou granizo, a passar o raio do dia aqui enfiados. E os miúdos mais atrás, a arrastar os pés, em plena agonia pela sua triste sorte.

Tem graça que nisto da praia, parece que com a idade as pessoas vão perdendo o bom senso. Ao que parece, os mais pequenos têm uma noção, digamos, mais sã, de quando realmente vale a pena vir apanhar sol.

Normalmente é quando o há. Não é assim tão complicado.

Ao longe avisto o salva-vidas.

Aprecio muitíssimo esta profissão.

Um homem que treina afincadamente, com todas as privações adjacentes, que estuda os mistérios do mar e do tempo, que ouve mais do que o comum dos mortais, que vê mais longe e mais fundo do que todos nós, que é obrigado a ter a destreza de um tubarão, a coragem de um verdadeiro herói...

Sempre, SEMPRE, com um único objectivo: papar gajas.

É de valor.

E vai-se a ver e é hora de almoçar. Vou-me embora.

Gostei muito deste bocadinho. Por acaso, nem por isso.
Mas também agora já passou.

A mim quem me tira uma boa piscina tira-me tudo.
Claro que não tenho o imenso prazer de sentir areia a assar-me as partes baixas mas no fundo, e digam o que disserem, não sentir isso até acaba por ser positivo.
São gostos."

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