Sunday, February 14, 2010

O Homem-bússola ao contrário II

Mesmo quando se pensava que este vosso amigo não conseguia repetir a proeza... não só repete como consegue fazer pior. Eu não páro de me surpreender a mim próprio. No mau sentido é claro. Enquanto o prejudicado for eu e só eu, não vejo grande mal nisso. Agora quando esta maldição horrível atinge pessoas que me são queridas e que são, até ver, completamente inocentes, então é coisa para me provocar uma assadura na virilha.

Estão preparados?

Não?

Eh pá não se armem em esquisitos...


Dia: 14 de Fevereiro de 2010 (o muito comercial Dia dos Namorados)


Missão: Ir de minha casa, em Benfica, até ao restaurante Barra do Quanza em Belém.


Pontos a favor: Reserva de uma mesa para duas pessoas, em meu nome, para as 21h; a morada num papel; um taxista profissional e certamente escaldado em encontrar toda e qualquer localização.

Pontos contra: Eu.


Desenrolar da acção: É dia 13 de Fevereiro, amanhã é Dia dos Namorados. O que é que eu lhe vou dar? Livros, não tem tempo para ler. Filmes, temos centenas cá em casa que nunca vimos. CD's, saca da net. Roupa, é melhor não me meter nisso. O que é que eu faço? Já sei! Jantarzinho romântico e mais não sei o quê... tudo a debitar na conta do "je". Melhor reservar a mesa já hoje. Espero que consiga. Lifecooler... procurar um que esteja aberto ao Domingo. Uma cozinha que não experimentamos todos os dias. Este é bom, africano, mas não está aberto aos Domingos. Telefono na mesma? Vamos então a isso. Estão abertos amanhã? Sim? Maravilha. Mesa para dois às 21h. Obrigado, meu bom senhor. Aponto a morada num papel. Tudo certo. Certinho. Já é dia 14. São 20h30. Ela já me deu as prendas. Eram boas. A minha vai já a seguir. Levo o carro e o GPS? Este menino é demasiado esperto para cair na mesma esparrela duas vezes. Não senhor. Para além disso, o menino quer beber vinhaça como se não houvesse amanhã. E ainda para mais está a chover a potes. Vamos antes de táxi, ok? Ela diz que quer pagar o táxi. Tão querida... Muito bem. Que pague. Entramos na viatura. Digo a morada. O gajo torce o nariz. Eu caguei. Não sou taxista. Eles é que sabem as moradas todas. São treinados para isso. Diz que a morada que eu lhe estou a dizer é vaga. Ele é que é vago. E para além disso tem um corte de cabelo que meu Deus. Mas isso é lá com ele. Digo-lhe a morada. Ele mostra que não está a ver mas dirige-se para Belém. Já não é mau. Tenho o nome do edifício onde aquilo é, que copiei do Lifecooler. Ele volta a dizer que a morada é vaga. Apetece-me dizer-lhe que vaga é a mãe dele. Mas fico na minha. Passamos por Belém. Ele diz que o edifício é mais à frente mas mais à frente já é Pedrouços. Eu não sei, não sou taxista. Chega a Pedrouços e diz que o edifício ficava lá atrás. Eu volto a não saber, mas acho que ele também não sabe. Faz inversão de marcha. Vai para o sítio que indicou. Parece abandonado, duvido que seja isto. Ele diz que é mais à frente, onde é o Hotel Altis. Eu duvido que o edifício seja o Hotel Altis porque senão não seria o tal restaurante, seria... o Hotel Altis. Ainda assim agradeço. Mortinho para sair do táxi e terminar a agonia. Estou farto do homem. A minha mulher paga o táxi. Estamos ambos junto do Hotel Altis, no meio da trovoada. Damos a volta inteira ao perímetro, a apanhar chuva em recantos do corpo onde o sol não brilha. Nada. Vamos pedir indicações ao recepcionista do Hotel Altis. O homem assusta-se. Diz que é na área ao lado, a mesma que me pareceu abandonada há pouco. Eu agradeço e vou novamente para o meio da tempestade. Estou farto do homem. Eu e a minha mulher enfrentamos o temporal, já encharcados. Damos a volta ao perímetro. Nada. Lágrima, uma única. Tristeza. Já passa das 21h. Ligamos para o 118, que eu esqueci-me do número do restaurante. Dão-nos o número. Ligo, a apanhar chuva na tromba. Ninguém atende. Típico. Ninguém a quem perguntar, ninguém a quem recorrer, os meus "cojones" em jogo para salvar o Dia dos Namorados... e o resultado são duas alminhas ensopadas e desesperadas no meio de uma tempestade. Um leve soluçar começa a querer apoderar-se de mim. Fome e frio. Decido ultrapassar a estrada pela via aérea. Quase somos projectados pelo vento para a frente de um camião. Eu quase desejo ter sido colhido pelo veículo, tal a vergonha. Ambos enregelados. Volto a ligar. Ninguém atende. 21h30. Começamos a andar em direcção ao CCB. Praguejo contra tudo e todos. Principal visado: Deus. O tal que, quando não ouve as orações dos crentes se entretém a brincar com a minha vida como a sua comédia pessoal de Buster Keaton. Ele acha graça. Eu não. Chegamos ao CCB. A minha mulher funga incessantemente. O fungar dela começa a irritar-me. JÁ SEI QUE ESTÁS A FICAR DOENTE E QUE A CULPA É MINHA!!! Mas enfim, a besta sou eu. Tenho é de me irritar comigo próprio. Desisto de ligar para o restaurante. Definitivamente não sei o que se passou. Não consigo deixar de imaginar o gajo a desligar o telefone depois da minha "reserva" e a escangalhar-se a rir, no meio dos cozinheiros e empregados. Continuo a andar mas não sei para onde. O meu par evita fazer-me perguntas para não me enervar mais e eu finjo ter um plano. Mas não tenho. Não sei o que estou a fazer. Estou a andar sem destino, provavelmente a condenar-nos à morte por pneumonia. Estamos ensopados e gelados até aos ossos. Ela fala em irmos para casa. Eu concordo, cabisbaixo. Apanhamos um táxi. Ela paga.

Chegamos a casa. Banho a ferver. Abro uma garrafa de vinho e mandamos vir duas pizzas. Depois de algumas goladas de tinto, até parece que o plano sempre foi este...
Mas não foi.

Não foi.


É preciso dizer mais alguma coisa? Só que se eu fosse esta mulher já me tinha pontapeado violentamente nas nádegas. Mas também, se continua comigo não merece muito mais do que isto. Quanto ao Barra do Quanza, acredito ser muito bom restaurante, sim senhor, mas a moradazinha que disponibilizam é um pouco dada ao erro. Pelo menos a avaliar pelas palavras do c****o do taxista.

De qualquer forma, esta minha incrível tendência para me perder e, essencialmente, para o "disparate" anda a ganhar contornos preocupantes. É só acabar de tomar o guronsan, que a pizza não me assentou bem, e vou tomar providências. Providências essas que, se me conheço bem, não auguram nada de positivo.